Escrever no blog é algo que gosto muito de fazer, e é sem sombra para dúvidas um hobby que ocupa quase todo o tempo livre que tenho depois do trabalho. No passado sonhei em me tornar um blogueiro de viagens profissional, mas entretanto isso mudou. Porquê e como mudei a minha opinião?
Um pouco da história como comecei como “blogueiro de viagens”
Antes de mais, porque é que coloquei “blogueiro de viagens” entre aspas? Porque na verdade nem acho que seja um. Tenho um blog, mas isso faz de mim um blogueiro? E sim, escrevo sobre viagens. Mas isso define-me como um blogueiro de viagens? Não sei, é para vocês decidirem. Que acham?
Comecei este blog como uma forma de partilhar a minha vida como estudante de intercâmbio com os meus amigos e família, e isso já em 2007! Isso numa altura antes de estar no Facebook, ou mesmo os meus pais e a maioria dos meus amigos. Escrever no blog foi uma excelente forma de partilhar as minhas histórias com aqueles que de facto tinham interesse na minha vida tediosa de estudante no estrangeiro.
Lembro-me que na altura nem sequer imaginava que alguém conseguia viver de um blog. Para mim, isso era a minha “rede social”, e basicamente essa era a única função para mim. Apenas escrevia algumas parvoeiras, algumas histórias, mas nada mais. Talvez um ou dois desconhecidos acabavam por ler o meu blog, não sei bem porquê, mas isso talvez aconteceu. E algo era certo, não escrevia para ninguém excepto para mim mesmo.
Depois mudei-me para a Grécia, onde continuei a usar o meu blog como um diário. Na altura já tinha facebook, mas escrever no blog era uma forma divertida de partilhar histórias em vez de apenas estados no facebook, que verdade seja dita, pouca gente liga importância.
Quando me mudei para Portugal, devido à minha falta de tempo e energia, que estava a ser totalmente consumida pelo meu emprego anterior, o blog entrou numa fase de estagnação. Escrevi muitos poucos artigos, e na altura nem sequer tinha dinheiro suficiente para poder viajar.
A espiar outros blogueiros…
Apenas quando me mudei para a Irlanda e conheci outros blogueiros, foi quando comecei a pensar em me tornar num blogueiro de viagens. Talvez ser pago para viajar pelo mundo e partilhar as minhas histórias poderia ser um emprego de sonho?
Uma das blogueiras que conheci, e que de certa forma andava a espiá-la online, fui vendo o que ela fazia em primeira mão. Na verdade sigo-a ainda antes dela se tornar uma blogueira de viagens a sério, e foi quando pensei que talvez poderia melhorar e focar-me no que estava a fazer.
Nessa altura ela ainda não era uma blogueira de viagens a tempo inteiro. Mas foi graças a ela que aprendi imenso sobre a arte de escrever em blogs, a que grupos me juntar, colaborações e muito muito mais.
Com o passar do tempo ela acabou por se tornar uma blogueira de viagens a tempo inteiro, e devo admitir que cheguei a pensar em seguir o mesmo rumo. Mas não podia estar mais errado…
Também persegui outros blogueiros de viagens, alguns deles também portugueses. Aprender com outros é a melhor forma de melhorar, e melhor ainda quando eles são pessoas normais como nós. É fácil criarmos aquele sentimento de proximidade e de nos identificarmos, e também de vermos a quantidade abismal de trabalho que eles têm de fazer para chegarem onde chegaram. E sim, realcei e sublinhei a quantidade de trabalho…, ser um blogueiro de viagens não é mesmo tarefa fácil.
Como reorganizei o meu blog para me focar em viagens
Provavelmente repararam que acima não coloquei ligações para as minhas experiÊncias na Alemanha, Grécia ou até mesmo Portugal. Uma das coisas que decidi fazer para me focar em viagens foi apagar todos os artigos que nada tinham a ver com viagem. Por vezes arrependo-me de fazê-lo, foram algumas memórias que escrevi com uma mentalidade bem diferente da que tenho hoje, e memórias ajudam-se consoante ficamos mais velhos…
Mantive alguns desses artigos antigos, e revi-los todos, para os melhorar e torná-los mais interessantes para consulta. No entanto, também tentei manter a mesma voz com que quando os escrevi.
Hoje em dia o meu blog tem como foco as viagens, e o que escrevo é principalmente em Português. Essa é a minha principal audiência. Estruturei o blog em diversas secções para ficar mais fácil navegá-lo, e para manter também o foco no tipo de conteúdo. E se escrever algo que não se enquadra nas minhas categorias? Então talvez quem me lê também não tem muito interesse em ler sobre isso.
Como escrever para um blog de viagens
Escrever um texto é fácil. Pensar no assunto -> Escrever sobre isso.
No entanto, escrever um artigo requer muito mais do que isso, é necessário pesquisar, precisão de informação, qualidade, ortografia e gramática, estrutura, fotografias e muito mais. É necessário pesquisar sobre palavras-chave que fazem o nosso blog chegar a mais leitores, e garantir que elas se encaixam perfeitamente no nosso artigo, sem o tornar demasiado robótico. Sem leitores um blog não faz muito sentido. Devemos escrever com os nossos leitores em mente.
Depois também existe o factor visual, que irá tornar o nosso artigo mais atractivo. Excelente fotografia, excelentes vídeos, excelentes gráficos. E tudo isso terá de fazer sentido para o leitor e fazer do artigo algo que valha a pena ler.
Ter um blog de viagens não é assim tão cor-de-rosa
Só a parte de criação de conteúdos já existe imenso tempo, mas se o objectivo é publicar conteúdo de qualidade, é necessário trabalhar bastante mesmo.
As redes sociais e os blogs de viagem
Nos vários grupos de facebook em que entrei comecei a ver um mundo completamente. Mas os leitores não chegam ao meu blog por artes mágicas? E nem ficam leais para sempre? E temos de lhes dar a saber que existimos?
São feitas imensas partilhas, em várias redes sociais. E muita colaboração, com outros blogueiros a partilharem o nosso conteúdo e nós a partilharmos os deles. Diria que partilhar artigos é uma grande fatia do trabalho de um blogueiro de viagem. Os leitores precisam de saber onde estamos, e se for graças ao Google, então ainda melhor. Mas quando somos pequenos, precisamos de uma ajuda extra.
E para que isto possa acontecer, muito tem de ser feito. Para o Pinterest é necessário criar imagens de grande qualidade num formato bem distinto, de forma a que se incorpore perfeitamente nos resultados da comunidade. Para o Twitter e o Facebook é necessário um formato diferente. E para o Instagram, outro formato… Isso é mesmo muito trabalho, só com imagens.
E no que respeita ao texto de apresentação do nosso trabalho? Cada rede social funciona de uma forma diferente. Como tal, devemos escrever um texto introdutório que se alinhe com cada uma dessas redes sociais onde estamos a tentar divulgar o nosso trabalho.
A cada dia em que dou uma olhada no que esses blogueiros que ando a perseguir estão a fazer acabo por aprender algo novo. Algo mudou, ou algo deve ser feito de uma forma diferente. Há uns tempos falei com um influencer do Instagram, que tem alguns milhares de seguidores. Ele disse-me o quão minucioso ele é com o seu conteúdo, como por exemplo as roupas que os seus amigos estão a usar e que podem estar a divulgar, de forma não intencional, uma marca concorrente com as que fazem parcerias com ele. Ou o simples facto de que o seu perfil dá a entender que é um viajante a solo, quando nas stories cruas dá para ver que ele viaja com amigos e família, no entanto o perfil deve ser bem coerente e consistente.
Ter um perfil é simples. Partilhar algumas fotografias? Fácil. Ter uma excelente conta e fazer com que os seus seguidores continuem a segui-lo? Então aí é preciso MUITO trabalho!
Como fazer dinheiro como um blogueiro de viagens
Esta é a parte mais interessante para a maioria de nós. Ser pago para viajar pelo mundo! Quem não gostaria desta vida?
Aqui no meu blog apenas tenho publicidade direccionada a alojamentos ou produtos que recomendo, e até agora ainda não recebi um cêntimo dessa publicidade. As pessoas precisam de clicar nos anúncios, comprar coisas e mesmo assim só irei receber uns cêntimos. Para chegar ao nível de me tornar num blogueiro de viagens a tempo inteiro, teria de ter mais alguns milhares de leitores por mês. E com isto, voltamos à parte de criação de conteúdos e das redes sociais. Tudo tem de estar perfeito até conseguirmos fazer algum dinheiro.
Mas para uma pessoa se tornar num blogueiro de viagens a tempo inteiro, é preciso muito mais, mas muito mais do que apenas alguns anúncios. Os anúncios podem ser o suficiente para pagar pelo domínio e alojamento e algumas outras ferramentas que um blogueiro profissional possa precisar, mas certamente não irá ser suficiente para passar a ser independente e fazer vida do blog.
Um blogueiro de viagens tem de contactar várias companhias, hoteis, agentes, editoras e muito mais. Receber um não vai custar de inicio, mas é com persistência que se cresce. Aprender com todos os nãos e os sims , sempre a tentar melhorar e em busca de mais trabalho independente. O trabalho de um blogueiro de viagens não se fica pela página.
Alguns blogueiros também vendem produtos nas suas páginas, como livros físicos ou virtuais, e até outros tipos de artigos. É preciso ser-se criativo para fazer dinheiro, e não colocar todos os ovos no mesmo cesto. Encontrar novas formas de fazer dinheiro para garantir um estilo de vida independente por bastante tempo.
Juntar isto tudo
Hoje em dia já existem alguns blogueiros que fazem dinheiro suficiente para terem uma equipa a trabalharem para eles, pessoas especializadas em algumas das tarefas que referi acima. Mas até chegarem a esse ponto, eles tiveram de trabalhar muito, e fizeram essas tarefas sozinhos.
Um blogueiro começa sempre por um trabalho a solo.
Criar. Publicitar. Procurar. Vender.
E muito mais… O trabalho de um blogueiro de viagem é muito fora do escritório de casa, visto que temos de viajar. Caso contrário, qual é o objectivo de se ser considerado como um blogueiro de viagens? O objectivo não é coleccionar carimbos no passaporte, ou coleccionar países. Um blogueiro de viagens pode ser bem local, ter um niche bastante específico e escrever sobre as suas cidades. Mas o trabalho de um blogueiro de viagem é muito “feito na rua”.
Mas porque é que eu desisti do sonho de me tornar num blogueiro de viagens?
Em 2016 decidi tirar uma licença sem vencimento e fui para a Austrália por dois meses. Uma aventura que já devia ter acontecido há imenso tempo, e algo que eu queria mesmo fazer.
Na altura já tinha um grande desejo em me tornar num blogueiro de viagens, e era bastante activo nos grupos de colaboração no Facebook. Tinha alguns contactos, e escrevia quase diariamente.
Visto que iria viajar por dois meses, porque não manter o blog activo e ser um blogueiro de viagens a sério por dois meses? Já estava a fazer quase tudo o que listei acima, excepto lançar-me em parcerias e trabalho como freelancer. Pensei que não seria assim tão complicado, afinal de contas iria de férias e teria todo o tempo necessário para escrever…
Por vezes apenas precisamos de provar um pouco da vida real para percebermos o que queremos. Ou, neste caso, o que eu não queria.
Trabalhar muito não me assusta. O meu incentivo nunca foi fazer dinheiro com o blog, nem como uma forma de manter um estilo de vida a viajar pelo mundo em vez de estar num emprego das 9 às 5. Isso não me impediu de investir grande parte do meu tempo livre com o blog, e a aprender como o melhorar.
E eu também adoro viajar. Yep! Adoro mesmo viajar! Não ter um voo marcado deixa-me ansioso, preciso de ter algo reservado para saber que vou a algum lado. É quase como uma droga, até diria que é um vício bem bom.
Mas por vezes juntar duas coisas que adoramos não é a melhor solução. Duas semanas depois de começar como blogueiro de viagens a tempo inteiro percebi que não conseguia fazer nenhuma das coisas decentemente. Estava bastante estressado porque queria escrever pelo menos um artigo por semana, mas também não queria partilhar algo sem sentido. Ou então o estresse de querer fazer uma excursão de sonho, mas essa colidir com o calendário do meu blog.
Porque é que falhou?
Talvez falhou porque eu sabia que as minhas férias teriam um fim. Ou iria aproveitar o meu tempo e depois voltar ao trabalho, ou iria andar estressado com o blog e não fazer metade das coisas que queria fazer. Talvez um blogueiro de viagens a tempo inteiro saiba como organizar melhor o seu tempo, porque é o seu trabalho a tempo inteiro.
Mas para mim, apercebi-me que não estava a gostar de nenhuma das coisas que adorava fazer. E isso não é algo que queira para mim.
Encontra um emprego que adoras, e não irás trabalhar ter de trabalhar um dia na tua vida.
Mark Twain
É uma grande citação, e de facto bastante assertiva. Talvez um dia aprenda como conjugar o trabalho de ter um blog e de viajar, e talvez um dia venha a ser pago para fazer algo que adore. Mas para já, adoro ambas estas coisas individualmente, e isto serve-me bem.
Dentro de um escritório das 9 às 5, e irei continuar a tentar explorar o resto do mundo ao máximo!
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