Cork é a segunda maior cidade da República da Irlanda e a terceira maior na ilha. No entanto, não é uma cidade que se oiça falar como uma cidade turística, como Dublin, Galway ou Belfast (na Irlanda do Norte). O que é pena, pois é uma cidade cheia de história e com muito para visitar. Este artigo é dedicado à ilha central, onde fica o centro da cidade.
Dediquei um artigo inteiro a uma das rotas auto-guiadas pedestres em Cork e este artigo é para outra dessas rotas, a rota laranja ou rota da ilha central.
Um pouco sobre o centro de Cork
Quem olha para o mapa de Cork provavelmente irá notar que o rio se separa algures antes da Universidade e na zona do Porto de Cork se volta a unir. Isto faz com que o centro da cidade seja uma ilha. No entanto, nem sempre foi assim. Na verdade, outrora, Cork foi quase como uma Veneza. Mas uma Veneza pantanosa. Na verdade, o nome de Cork em irlandês significa mesmo isso, pântano.
A zona que é hoje o centro foi também onde a cidade nasceu, numa das muitas ilhas que tinha. Com os tempos foram tapando alguns dos canais para ter melhores acessos, como é o caso de uma das artérias principais do centro da cidade.
O problema disto é que a Natureza tem uma razão de ser como é…, e quase todos os anos temos cheias no centro da cidade. Mas os irlandeses sabem tirar proveito dos desastres naturais para se divertirem, procurem no google por imagens de “Cork floods kayak“…
Como tal, a ilha central é, na verdade, uma fusão de várias ilhas e algumas partes da ilha têm nome de ilhas também. Mas quem não sabe deste detalhe até fica um pouco confuso. Por que raio aquela zona se chama Morrison’s Island se faz parte da mesma ilha? Agora já sabem!
A rota da ilha central
As quatro rotas pedestres marcadas na cidade começam todas no mesmo ponto, uma pequena praça chamada Daunt’s Square que fica na curva da Rua St. Patrick com a Grand Parade.
Volta e meia celebram missas ao ar livre aqui (sim, é verdade), onde há sempre gente a dar de comer a pombos. É uma zona de passagem muito movimentada.
Sendo o mesmo ponto de partida, é normal que algumas rotas passem pelos mesmos pontos. Seguindo para sul, em direcção ao rio, encontram a primeira paragem perto da curva da Grand Parade com a South Mall, junto à paragem de autocarros.
Grand Parade e South Mall
Tanto a Grand Parade como a South Mall foram em tempos canais do rio e foi o aterro destes canais que deu origem a estas duas ruas entre 1750 e 1790.
Do lado oeste está um edifício centenário que data de 1787, que originalmente era conhecido como Daly’s Clubhouse e mais tarde como o Clube da Cidade e cuja fachada do edifício data de meados do século XIX.
Aqui nesta zona podem também chegar mais perto do rio e apreciar uma das vistas para a Catedral do Santo Fin Barre. A vista daqui ao pôr-do-sol é fantástica! Esta ponte pedonal foi durante muito tempo a única ponte em Cork com o nome de uma mulher, Nano Nagle. Ela foi a fundadora de uma Ordem de Freiras e podem visitar a campa dela seguindo outra das rotas pedonais de Cork.
Daí sigam pela South Mall a caminho do ponto três. Pelo caminho, no jardim em frente ao pub Electric, encontra-se um memorial às vitimas das bombas atómicas em Hiroshima e Nagasaki. Passa um pouco despercebido, mas é um detalhe interessante.
A Estação dos Correios Principal
Esta parte do trajecto é algo confusa, e se não prestarem atenção às setas ou instruções podem ir parar ao painel 4 saltanto o 3, mas mais que não seja pelo passeio em si, prestem atenção às indicações.
Junto aos semáforos, a meio da South Mall, atravessem a estrada e entrem pela Pembroke Street. Antes de chegarem ao painel 3, reparem no edifício de canto com a South Mall e a Pembroke Street. Hoje em dia é um café, mas foi a Sociedade da Biblioteca (Library Society). Grande parte desta área foi danificada durante a Guerra da Independência. Depois desta destruição uma nova era da cidade de Cork começou, com novos edifícios e alguns reconstruídos para outros fins. Como o caso da Estação de Correios Principal que foi em tempos um teatro, também destruído mas por um fogo.
A zona da Lapp’s Quay e Porto de Cork
Seguindo até ao fim da Rua Oliver Plunkett, em direção a este, atravessem a estrada e sigam para sul até ao rio, em Lapps’s Quay.
Nesta zona poderão ver vários edifícios históricos com detalhes que facilmente passam despercebidos. Num dos edifícios de canto dá para ver os brasões de várias cidades da Irlanda. Do outro lado do rio encontra-se a Câmara Municipal (City Hall) e é um bocado complicado não reparar neste edifício. Recomendo também uma visita à noite a esta área já que a Câmara Municipal é frequentemente iluminada com cores diferentes, nomeadamente em comemorações como o Mês LGBT ou o Saint Patricks Day.
Continuam junto ao rio pela Lapp’s Quay até chegarem ao final da ilha. Aqui dá para notar várias evidências da história marítima de Cork. Desde os armazéns às plataformas de madeira sobre o rio. É neste ponte que os dois canais se voltam a unir num só, antes de chegar ao mar.
O Porto de Cork é um dos melhores portos naturais do mundo e o segundo maior. Por aqui passaram quantidades gigantes de manteiga para ser exportada para várias partes do mundo o que contribuiu para aumentar o emprego e por sua vez a expansão da cidade.
A zona de Penrose Quay
E agora atravessar a ilha para o outro canal. Quem lê isto até pensa que esta parte da ilha é grande, mas não, são apenas uns 50 metros e já estam junto ao outro canal. Lembrem-se que este é o ponto em que os canais se voltam a juntar.
Aqui nesta zona, o melhor mesmo é a explorarem um pouco, para ambos os lados. Em tempos, esta foi uma zona industrial também onde chegava o carvão essencial para a modernização da cidade. Até ao início do século XX, os carregamentos e descarregamentos eram feitos à mão o que empregava imensa gente.
Continuando a caminhada em direcção a oeste, um pouco antes da outra ponte, encontra-se mais um painel. Como devem ter reparado, já passaram por uma ponte similar a esta do outro lado da ilha. Por estas pontes já passaram vários tipos de transportes, comboios de mercadorias e passageiros, motorizados, pedestres e até dava para elevar para possibilitar a passagem de barcos.
E falando em barcos, em 1858 um navio português, chamado Funchal, atracou junto a um armazém. Quando a maré baixou, o navio, que não tinha sido amarrado devidamente, tombou e bateu contra as paredes do cais. Depois de várias tentativas falhadas de o endireitar, o navio e o carregamento de sal ficaram total destruídos.
Passagem pela Rua MacCurtain
Voltando para norte, vamos para uma rua paralela com a marginal. Esta rua chama-se MacCurtain Street e é (ou foi) uma das ruas mais vibrantes da cidade. Ainda hoje é uma rua com muitas lojas e bares, um ou dois hotéis e até um teatro.
O primeiro painel fica ligeiramente à direita para quem vem da zona do rio. E de frente temos a vista para duas igrejas. Esta praça fica a caminho da estação de comboios de Cork e em tempos era um local onde grandes multidões se juntavam a acompanharem pessoas famosas até à estação de comboios.
Nesta mesma rua, no número 43, está uma relojoaria que está na cidade desde o século XVII, preservando a tradição da arte de fazer relógios.
Chegando ao final da rua, no cruzamento com a rua da Ponte (Bridge Street), encontra-se o último painel desta rua. Deste canto podemos ver vários pontos icónicos da cidade de Cork. A colina Patrick’s Hill, com uma grande acentuação de inclinação. A Rua MacCurtain Street, por onde já passámos, e também com vista para o Shandon Steeple a oeste, um dos monumentos mais conhecidos da cidade. E claro, em direcção à ilha central, a ponte e a rua de St. Patrick’s.
De volta à ilha central, pela rua St. Patrick’s
E de volta à ilha central, vamos descer rua St. Patrick’s, coloquialmente também conhecida por “Pana“. Quando alguém local diz que vai “Fazer a Pana”, é porque vai caminhar pela rua, exactamente como nós vamos fazer agora. Tal como outras ruas que foram referidas anteriormente, esta também é o resultado do aterro de um canal que deu origem a uma artéria principal da cidade. A curvatura desta rua reflecte a curvatura do canal que outrora ali estava. Em alguns dos edifícios mais antigos até é possível ver os degraus que davam acesso aos cais desse canal.
Assim que entramos na ilha central por esta rua somos recebidos pela estátua do Frei Mathew. Um pouco mais abaixo, do lado direito, encontra-se outro edifício icónico da cidade, o Savoy, que durante grande parte do século XX recebeu o Festival Internacional de Cinema de Cork, que teve a visita de várias estrelas de Hollywood.
E continuando o passeio, um pouco mais abaixo, encontra-se um dos quarteirões que achei mais interessante de descobrir. Já vivo há quase uma década em Cork e foi algo que aprendi de novo ao fazer esta caminhada. É o quarteirão dos Protestantes Franceses que se estabeleceram em Cork em finais do século XVII. Os Huguenots foram bem recebidos pelas suas habilidades, e rapidamente se tornaram membros importantes da vida cívica e comercial de Cork. Alguns chegaram mesmo a cargos como presidente da câmara de Cork. Parte do cemitério Huguenot foi restaurado e pode ser visto numa das ruas perpendiculares à rua St. Patricks.
E terminamos o nosso passeio junto ao último painel, o painel 13. Aqui estamos junto de uma das entradas do Mercado Inglês, que abriu em 1788 e ficou conhecido como o Mercado Protestante ou Corporação Inglesa. Mais tarde, um mercado irlandês foi estabelecido na rua Cornmarket Street. Hoje em dia o Mercado Inglês é um dos monumentos mais conhecidos da cidade com uma reputação internacional, e onde podemos provar algumas das comidas tradicionais de Cork.
Depois deste passeio podem explorar um pouco mais da cidade e fazer outra rota auto-guiada, ou então aproveitarem para comer um petisco no Mercado Inglês!
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