Cork é a segunda maior cidade da República da Irlanda, e a terceira maior da ilha, sendo Belfast a segunda maior (mas esta parte do Reino Unido). Fica a cerca de 250km da capital, bem a sul da ilha mas infelizmente não é um destino muito turístico. Quem cá vem é quase só de passagem e acaba por não conhecer muito do que a cidade tem para oferecer. Mas não é por falta de informação, até sem mapa dá para descobrir a cidade, e é por isso mesmo que decidi criar uma série de artigos para apresentar algumas das rotas para descobrir a cidade a pé, começando pela rota da Universidade.
Os mais atentos certamente que irão notar algumas setas espalhadas pela cidade, azuis, verdes, vermelhas e laranjas. São as rotas, bem identificadas, pela cidade. Excelente para quem quer descobrir alguns dos segredos da cidade sem se perder.
Todas as rotas começam num mesmo ponto, bem no centro da cidade numa pequena praça na intersecção entre duas das ruas principais, a Saint Patricks Street e a Grand Parade. Como são duas das ruas mais movimentadas da cidade, acaba por ser um ponto onde muitos turistas mais cedo ou mais tarde vão passar. Mas será que vão reparar nas setas?
Neste primeiro artigo vou falar da rota da Universidade, uma rota que foge do centro e passa pelas zonas dos mais bonitos espaços verdes da cidade. Também, a minha rota favorita, que até antes de ter reparado na existência destas setas, levei vários amigos a conhecer alguns dos pontos principais desta rota.
A rota da Universidade
A rota tem como ponto principal, obviamente, a Universidade de Cork (UCC), e ao percorrer a rota vamos passar por vários pólos que ficam fora do campus principal. Esta rota tem a particularidade de passar também pelos espaços verdes mais importantes da cidade, sendo a Universidade um deles.
A partida faz-se do pequeno largo Daunt’s Square, seguimos em direcção ao canal sul do rio, pela Grand Parade e paramos junto ao parque Bishop Lucey, do outro lado da rua vemos uma das fachadas de um dos edifícios mais emblemáticos da cidade de Cork, o Mercado Inglês. Vale a pena uma passagem pelo mercado, mais que não seja pelo estilo arquitectónico, e para comer numa das bancas do mercado, ou até mesmo no restaurante The Farm Gate.
Depois do mercado, temos de voltar ao parque, podemos atravessá-lo e sair do outro lado, ou seguir o mapa da rota. Vou optar por seguir o mapa para não nos perdermos, na Grand Parade temos de voltar à direita, deixando o parque do nosso lado direito, e seguimos até ao final da rua onde vamos parar por uns instantes.
Chegámos à rua South Main Street, ligeiramente para a esquerda do outro lado da estrada está a antiga Fábrica da Beamish, uma das cervejas pretas de Cork. E do nosso lado direito, mesmo de canto, está um dos pubs a não perder em Cork, The Oval, e do outro lado da estrada mesmo em frente à Beamish, está outro pub bem conhecido pelas noites de música tradicional irlandesa, o An Spailpín Fánac. Mas continuando, que ainda não chegámos ao primeiro ponto do trajecto…
Christchurch
O primeiro ponto da rota é a igreja Christchurch, do lado direito mesmo junto ao parque. De realçar que neste momento estamos numa das ruas mais antigas de Cork, ainda da era medieval. Estamos a andar sobre história!
A igreja hoje em dia funciona como um Centro de Artes e parte da esplanada do café desse mesmo centro, dentro da igreja podemos ver concertos, peças de teatro e até cinema! Só fui uma vez ver um filme ao Triskel, e sinceramente, depois de uma hora, já não sabia em que posição estar…, bancos de igreja não são propriamente confortáveis, ainda para mais para ver um filme… Mas gosto da forma como aproveitaram um monumento e deram-lhe uma utilidade pública.
Uma das curiosidades sobre este local é a antiga torre, que foi desmantelada em meados do século XIX, que estava torta. Isto deu origem à expressão “és torto como a torre de Christchurch“. Por acaso ainda nunca ouvi esta expressão…
Continuando em frente, em direcção a norte, chegamos à Washington Street, uma das ruas mais largas de Cork. Esta rua foi criada intencionalmente para ter a capacidade para grandes volumes de tráfego, bem, isto no inicio do século XIX.
Tribunal de Cork
Vamos continuar pela Washington Street, pela esquerda, e assim que se entra na rua dá para ver o edifício do tribunal. No topo do edifício reparem no mastro da bandeira, no final do século XIX o edifício pegou fogo, e a população veio à rua apreciar o facto de que a bandeira do Reino Unido estava (também) a arder. Este acto chegou a ser publicado em jornais, e até serviu de inspiração para um poema.
Lancaster Quay
Conforme continuamos a andar, estamos a sair do centro da cidade, seguimos pela Washington Street, e estamos na zona designada por Lancaster Quay, a zona junto ao rio. Ao passar junto ao hotel The River Lee Hotel, hão-de notar dois pequenos pilares dentro do rio, isto são vestígios da antiga linha de eléctrico que existia na cidade, e que, infelizmente, acabou por ser desmantelada.
Universidade de Cork (UCC)
Continuando sempre na mesma estrada, que a certa altura muda de nome (mas nem damos por isso), e chegamos à entrada da Universidade. Podemos entrar no campus a qualquer hora, mas obviamente que a entrada nos edifícios está condicionada durante a noite. Recomendo vivamente que dediquem algum tempo para passear pelo campus da Universidade e apreciarem a mistura arquitectónica, entre o novo e o clássico.
Subindo a rua irão encontrar uma pequena escadaria à esquerda, que vai dar ao largo da capela e à biblioteca, um pouco mais à frente vão encontrar o Quadrante da Universidade, para mim, a melhor vista da Universidade.
O ódio que os irlandeses tinham ao império era tal, que quando depois se tornarem independentes removeram a estátua da Rainha Vitória e colocaram num armazém, mas devido ao espaço que ocupava, anos mais tarde decidiram enterrar a estátua! Foi substituída por uma estátua do Santo Finn Barr, o padroeiro da cidade. Em 1994 exumaram a estátua da rainha e colocaram-na em exposição, e quase 20 anos mais tarde até já foi visitada pela Rainha Isabel II.
Se as portas estiverem abertas, no corredor central existem várias pedras com escrita antiga celta, é bastante interessante para quem gosta de história e arqueologia, não são os símbolos que estamos habituados, mas sim riscos marcados na pedra. Atravessando o arco, têm duas opções, ou para a direita, e depois descer as escadas (quase escondidas) pelo parque de estacionamento. E podem dar uma pequena volta junto ao rio até novamente à entrada da Universidade, ou seguem a rota para a próxima paragem.
Tal como disse antes, recomendo mesmo que façam um bom passeio pela Universidade, e a rota junto ao rio é bem agradável. Já visitaram a Universidade de Cork? Se sim, o que é que gostaram mais de ver? Agradeceria imenso se deixassem a vossa opinião nos comentários.
Prisão de Cork
Pouco resta da prisão de Cork, dá para ver a entrada e pouco mais. Um dos pontos de interesse é uma placa do escultor Seamus Murphy, natural do condado de Cork, e uma placa não oficial em homenagem a uma pessoa que tentou entrar na prisão para libertar prisioneiros republicanos, mas que foi abatido a tiro enquanto tentava passar pelo túnel. As janelas da prisão davam para a rua, e era comum os familiares irem para a rua gritarem para passarem mensagens para os prisioneiros. E em finais do século XIX, durante a Land War, bandas de músicos iam tocar para a rua para entreterem os prisioneiros políticos.
Vamos passar pela ponte, e voltar à Western Road, que é a continuação da Washington Street e da Lancaster Quay, voltamos à esquerda e atravessamos a estrada, pois vamos voltar já de seguida à direita por uma ruela em direcção a norte.
Parque Fitzgerald
A ruela onde estamos chama-se Ferry Walk, uma memória do ferry que existia para atravessar o rio antes da criação da ponte que treme (a tradução do nome é bastante similar), Shakey Bridge, a única ponte suspensa de Cork. Vamos seguir a rua até ao final, para vermos a ponte.
E enquanto andamos, do nosso lado esquerdo encontra-se o complexo desportivo Mardyke que é palco de vários eventos desportivos importantes. E aqueles que não querem pagar bilhete…, normalmente juntam-se junto às redes, e até sobem árvores para verem os jogos… Entre a ponte e o complexo desportivo existe um pequeno trilho que vai dar a um dos maiores parques de Cork, mas este ainda fica mais afastado do centro, hoje não vamos para lá. Mas se ainda assim quiserem visitar a pequena praia fluvial, fica a apenas uns 2 ou 3 minutos por esse trilho.
Quanto à nossa rota, vamos entrar agora no parque, e está na hora de nos perdermos por mais um bocado! Dentro do parque existem pequenos jardins, junto ao rio está um de roseiras, que na altura da primavera é bem bonito de ver! O Parque foi recentemente remodelado, e agora tem um parque infantil grandote para os mais pequenos queimarem energias.
Na outra ponta do parque encontram-se dois edifícios, um maior onde está o café e o Museu Público de Cork, e outro que é o Lord Mayor’s Pavilion, uma casa que foi construída para receber personalidades importantes que iam em visita à Exposição de Cork. Em frente ao Pavilion foi construído recentemente um palco onde fazem vários espectáculos durante o verão, e até cinema ao ar livre.
Assim que passarmos pelo Lord Mayor’s Pavilion, estamos a chegar à saída do parque, passando pelos portões voltamos à esquerda e seguimos em direcção ao próximo ponto.
Mardyke Walk e Margens do Rio Lee
Enquanto andamos, do nosso lado esquerdo encontra-se o Clube de Cricket de Cork, e um pouco mais à frente o próximo painel de informações. Do lado direito, dá para ver a entrada principal da Universidade, onde estivemos antes, e do lado esquerdo é por onde a nossa rota continua, passando pelo Parque de Skake (Mardyke Walk Skatepark).
De um lado o Skate Park, do outro as árvores que escondem o Clube de Cricket e um pouco mais à frente a ponte pedonal branca que nos vai levar para a outra margem do rio. Esta é uma das minhas partes favoritas da rota, junto ao rio por debaixo das árvores, daqui dá para ver alguma vida selvagem e dá a ilusão de que estamos fora da cidade, no entanto estamos a aproximarmo-nos novamente do centro. A certa altura, dá para ver da outra margem do rio o antigo edifício de uma destilaria que funcionou ali por cerca de 150 anos até 1920, e que depois passou para Midleton onde acabou por se fundir com a Jameson.
Assim que começamos a avistar uma ponte vermelha estamos a chegar ao final de mais um troço desta rota, é a St Vincent’s Bridge com cerca de 150 anos, e do outro lado do rio está um edifício de canto, neste edifício viveu George Boole, um matemático considerado por muitos como o pai da ciência computacional.
Boole é um dos nomes mais conhecidos nas ciências matemáticas, nasceu em Inglaterra, mas viveu e morreu aqui Cork. Num dia de muita chuva, ele foi a pé para a Universidade que ficava a 3 milhas da sua vivenda, deu aula completamente ensopado e acabou por ficar extremamente doente com febres altas. A sua esposa, que acreditava que as curas teriam como base o que tinha causado a doença, deitou vários baldes de água sobre os cobertores com ele na cama, o que acabou por agravar a doença. Ele morreu por derrame pleural.
Ainda na margem norte do rio, um pouco mais à frente encontra-se uma cervejaria já bastante conhecida na Irlanda e até no estrangeiro, Franciscan Well, neste local existiu um mosteiro de Franciscanos entre 1244 a 1540, e até 1836 ainda dava para ver as ruínas do mosteiro. O nome da cervejaria deriva da lenda de que ali existiria um poço com poderes de curar doenças, no mosteiro dos Franciscanos.
Grattan Street e fim do passeio
Estamos mesmo a terminar o nosso passeio, e a rota da Universidade. Vamos atravessar a ponte vermelha, e voltar à esquerda e andar um pouco, e um pouco mais à frente voltamos à direita e estamos na Grattan Street, no ponto final desta rota. Atenção que o último painel está um pouco escondido, quando chegarem junto a um minúsculo parque, que estará do lado esquerdo da estrada, chegámos ao ponto final. O painel está escondido atrás do gradeamento do parque, e não dá para ver para quem vem neste sentido da rota. Se entrarem neste parque, tenham em atenção que estão a andar sobre um antigo cemitério, centenário até.
Depois do parque, podem voltar ao ponto inicial. Se repararem, à nossa frente está as traseiras do Tribunal, a partir daí é só voltar à esquerda e vamos encontrar a Grand Parade novamente, o nosso ponto inicial. Se gostaram deste artigo, seria fantástico se o partilhassem e o fizessem chegar a mais pessoas! Toda a ajuda é mais do que bem-vinda!
Como percorrer a rota da Universidade?
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