O nevoeiro voltou a ficar intenso, mas mesmo intenso! O caminho era bem estreito, por quilómetros e mais quilómetros, e sempre sem luz. Se por norma já devemos conduzir com cuidado, naquelas condições ainda pior, a parte mais interessante é que atravessei parte do Parque Nacional Burren que iria visitar no dia seguinte, mas de noite, ou seja, sem conseguir ver absolutamente nada. O que também levou outra questão, e animais? Ainda mais cuidado a conduzir… E para juntar ao desafio, vimos vários avisos de partes de estrada inundada… Nevoeiro, luminosidade reduzida, estradas estreitas e partes inundadas… Interessante…
Foi um pouco tenso conduzir naquelas condições, e tudo até estava a correr bem, até chegarmos à zona do Lough Bunny, onde a estrada estava de facto inundada mas em avisos… Quando reparei, já estava dentro de água! Ainda foram uns 10 metros com água a bater debaixo do carro, o susto foi bem grande mas felizmente o carro não parou ali! Acho que fiquei a tremer por uns bons minutos, mas sempre a conduzir.
Histórias de um “blogger” à moda antiga
Encontrar o B&B também não foi fácil, mais remoto acho que seria complicado, esqueci-me de guardar a morada do B&B e foi complicado apanharmos internet no meio do nada, mas lá conseguimos. Quando chegámos “lá”, afinal ainda faltava um pouco…, olhando mais em detalhe no perfil do airbnb vimos que também tinha coordenadas GPS, que estavam absolutamente correctas!
O B&B tem um ambiente bem familiar, ainda bebemos duas garrafas de vinho com os donos, suíços emigrados há mais de 30 anos na Irlanda, e partilhámos imensas histórias. O dono viajou imenso durante os anos 70, contou-nos histórias que me deixaram de olhos a brilhar, um verdadeiro blogger à moda antiga, que passou para o papel todas as suas viagens, e que de vez em quando vai buscar um dos seus cadernos para ler algumas das suas aventuras. Partilhou connosco algumas das suas aventuras e desventuras, e deu um exemplo bem claro de como seguro de viagem é tão importante, mesmo quando estamos ao lado de casa como foi o caso dele. Acho que bati os meus níveis de excitação com aquelas histórias!
No dia seguinte acordámos cedo e tomámos um pequeno almoço bem robusto no B&B, feito pelo Joseph (o dono), e na companhia de vários pássaros que se estavam a alimentar num comedouro no jardim, tantas fotografias que tirei! Que ideia fantástica, tão fácil tirar fotos e de tão perto a pássaros em ambiente selvagem.
Pelo Parque Nacional Burren
Dali, seguimos para o Parque Nacional, mas demos a volta por cima por Kinvara, foi o mais a norte que estivemos neste fim-de-semana, fomos ver o castelo de Kinvara mas apenas de longe, e sob uma chuva irritante como já é habitual na Irlanda.
A ideia era ir visitar o Parque Nacional Burren, mas depois da experiência da noite anterior, decidimos fazer um desvio pela costa e aproveitar para ver o castelo. Até queríamos aproveitar a zona, mas o tempo não estava mesmo nada convidativo, então tirámos umas fotos para assinalar a passagem, e seguimos viagem a improvisar um pouco com o GPS.
Nem eu nem o meu amigo sabíamos nada sobre o Parque Nacional, apenas que era altamente recomendado, mas nem sabíamos muito bem ao que íamos. Colocámos as coordenadas de GPS, e lá seguimos para o meio daquilo. E quando digo “daquilo“, o parque nacional é tão diferente do que se poderia esperar de um parque nacional na Irlanda que até deu a ideia que estávamos noutro país qualquer. Um parque nacional bem rochoso, no entanto bem cheio de vida.
No Inverno parece um pouco deprimente, muitas rochas cinzentas a condizer com o céu igualmente escuro, mas para quem está habituado e já enjoado de tanto verde na Irlanda, aquelas paisagens são de facto algo maravilhoso, mesmo sob o céu cinza e triste que nos acompanhava.
Sem um destino especificado, a receptividade à espontaneidade também é bem maior, a certa altura vimos indicações para uma perfumaria…, e que tal irmos lá ver? Sugeriu o meu amigo. Então lá fomos espreitar.
Perfumaria no Parque Nacional Burren
Para lá chegarmos, conduzimos imenso, e até já pensávamos estar perdidos, mas confiámos nas indicações. Lá chegámos a uma casinha bem castiça no meio do nada, no final de uma estrada sem saída, e com um pequeno parque de estacionamento. Aparentemente estava fechada, mas depois de tanto conduzirmos, experimentámos na mesma. Que é que tínhamos a perder? Absolutamente nada, aliás, até ganhámos imenso com isso!
Na minha opinião, visitar a Perfumaria Burren deveria ser obrigatório para todos que vão visitar aquela zona da Irlanda. A experiência só por si é uma aula de Flora e Fauna local, e a explicação do porquê a zona do Burren ser tão importante, e ser um dos Parques Nacionais. É um paraíso para flores silvestres, abelhas, borboletas e muitos mais animais. Aliás, se não fosse pelas flores, porque raio haveriam de criar uma perfumaria no meio do nada?
O espaço está excelentemente organizado, com algumas secções audiovisuais com imagens do Parque Burren durante as várias estações do ano (tenho de lá voltar no Verão). Obviamente que tem uma loja, com todos os produtos que criam, mas também explicam tudo quanto podem. Os processos de criação, como reconhecer os diversos aromas e como os categorizar, e claro, depois acabámos por comprar alguns produtos.
Já fora da zona da perfumaria, existe um pequeno café, que para muitos poderia passar despercebido, mas que mais uma vez recomendo vivamente a irem e experimentarem um dos muitos chás de flores locais que eles têm. Aliás, os chás também são parte dos produtos deles. Tudo o que se pode fazer com aquelas flores, eles tentam fazer. Perfumes, cremes, chás, sabonetes, tudo mesmo!
E falando em sabonetes…, antes de partirmos aproveitámos e fomos ao WC. Sim, parece que é informação desnecessária, mas não o é. O sabonete que eles têm lá é produzido na casa, e o cheio é simplesmente fantástico! Não voltámos atrás para comprar por vergonha, mas é uma excelente forma de mostrar os seus próprios produtos!
Anta de Poulnabrone
Um dos pontos de referência mais importantes do Parque Nacional Burren é mesmo a anta de Poulnabrone, fica numa das estradas principais e bem fácil de encontrar. Isto, claro, se tiverem a rota minimamente planeada, o que não foi o caso…, tivemos de fazer um desvio para lá chegarmos, mas foi bem interessante. Também bem mais pequeno do que imaginávamos, mas bem interessante! Tirámos várias fotos ao fim do dia, mas a luz já não era das melhores. Ainda assim acho que conseguimos algumas fotos aceitáveis.
Sendo um monumento megalítico tão importante, os acessos tão são muito bem sinalizados e com um parque de estacionamento bem generoso, para autocarros e carros particulares. Depois, por um pequeno trilho pelo meio das muitas rochas, chegamos à pequena anta. Pelo caminho existem várias placas a explicarem a morfologia da zona e do período aquando a construção da anta. Salvo erro é acessível também por cadeira de rodas, existe um caminho alternativo menos acidentado até à zona da anta.
Caverna dos ursos – Caverna Aillwee
A última paragem do nosso passeio foi também não planeada, vimos indicações para uma caverna dos ursos e visto que ficava a caminho, porque não? Com muito pouco planeado, acabámos por ter um fim-de-semana em cheio! E esta caverna não ficou aquém do esperado, mais outra história que se poderia dizer “só na Irlanda“…
Em suma, a caverna foi descoberta por um agricultor que a manteve secreta por cerca de 30 anos, até que um dia comentou a sua descoberta, mas aparentemente poucos acreditaram na sua história (informação dada pelo guia, não encontrei fontes a comprovar isto). Dependendo das chuvas e da altura do ano, existe uma cascata dentro da caverna, e é possível encontrar muitas fotos dessa cascata no google, mas nós não tivemos sorte com as chuvas (acho que nunca tinha escrito tal coisa sem usar sarcasmo).
O nome da gruta deve-se ao facto de terem encontrado ossos de ursos dentro da caverna, numa posição de hibernação. A parte interessante é que os ursos estão extintos da Irlanda há pelo menos 15 mil anos…
Para ser sincero, a caverna é de facto interessante, mas muito curta e deixou um pouco a desejar pois uma das fotos que usam para marketing é uma parte da caverna feita pelo homem para permitir o acesso a um dos extremos da caverna. Mas ainda assim, valeu a pena a visita, apesar de esperarmos um pouco mais do que o que vimos.
Esta caverna ainda faz parte do Parque Nacional Burren, e foi o nosso último ponto de paragem antes de voltarmos para casa, mais um par de horas a conduzir depois de um fim-de-semana em cheio e repleto de boas experiências! Um Parque Nacional que recomendo vivamente a visitarem, seja em que altura do ano for.
Onde fica o Parque Nacional Burren?
Para quem vai visitar as Escarpas de Moher, então fica mesmo ao lado. Foi o que fizemos, aproveitámos o fim-de-semana para conhecer dois locais incríveis na Irlanda! Existem várias excursões que vos podem levar tanto ao Parque Nacional como às Escarpas. De Galway existem vários grupos e é a forma mais fácil de visitar, sem terem de “perder” meio dia só em viagens. Mas o que recomendo mesmo é a alugarem um carro e a se aventurarem, o Parque é incrível e tem mesmo muito para descobrir!
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