Esta foi a minha primeira vez na ilha da Madeira, e fui para o casamento de uma amiga, mas como não poderia deixar de ser, deu para bastante turismo. Como não poderia deixar de ser, tive de visitar a capital da ilha, Funchal, mesmo que por poucas horas.
Uma das coisas que me marcou mais foi a quantidade de túneis, tão criticados no continente, mas que marca a diferença entre alguns minutos e horas de viagem. Para quem vive lá tem um grande impacto. Ao contrário do que muitos pensam, os túneis não são um símbolo de desperdício mas sim uma necessidade. É mais uma daquelas coisas que é preciso estar lá para compreender.
A cidade de Machico
Foi a primeira cidade onde estive, terra da minha anfitriã. Também a primeira povoação da ilha da Madeira, onde João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira chegaram e criaram o primeiro porto da ilha.
A paisagem é fenomenal, a cidade com um relevo bastante acentuado com estradas com uma inclinação assustadora, e mais a este, na zona do Caniçal, mais menos acentuado e com características bem diferentes e um aspecto mais desértico.
Algo que notei bastante, foi a quantidade de sardaniscas, segundo o que me contaram é uma espécie invasora que veio com as naus, e devido à falta de predador natural tornou-se um bocado como uma praga. Os gatos acabaram por controlar um pouco, mas é bastante frequente ver estes pequenos lagartos pela ilha toda.
Funchal, a capital da ilha da Madeira
A capital do arquipélago foi curiosamente onde passei menos tempo, prefiro bem mais a natureza. Mas devo dizer que a vista é fabulosa! À noite então… O centro histórico é bastante acolhedor, como seria de esperar, com ruelas estreitas com casas antigas, e algumas pintadas com arte de rua.
Como fui o último a chegar à ilha, do grupo para o casamento, perdi grande parte do turismo na capital. Não fiz a volta no teleférico nem fui ao ponto mais alto, mas fica para a próxima.
Algo que gostei bastante de ver, mas que não experimentei, são os carros de cesto do Monte. 2Km em 10 minutos sempre a deslizar pela rua abaixo, um pouco caro, mas certamente uma experiência bastante interessante. Mais outra coisa que não experimentei, mas que talvez deva tentar um dia…
De Machico a Porto Moniz
A semana que passei na Madeira definitivamente não chegou para conhecer a ilha, é bem maior do que parece e com muito para ver. Os acessos também tornam as distâncias parecerem bem maiores. Num dos dias fomos passear pela parte norte da Ilha, o destino foi as famosas piscinas naturais de Porto Moniz, mas como tínhamos tempo fizemos as nossas paragens pelo caminho para tirar fotos.
A quantidade de túneis é surreal, e ver as a estrada velha então ainda melhor! A fotografia abaixo é a Queda de Água do Véu da Noiva, onde dá para ver parte da estrada velha destruída. Agora imaginem conduzir junto àquelas falésias…
Hoje em dia o caminho pelo norte da ilha é bastante bom, não me recordo ao certo quanto tempo demorámos de Machico a Porto Moniz, mas julgo que se faz em cerca de uma hora passando por vários túneis, sendo um deles o maior de Portugal, o túnel do Cortado (3,168 m). No regresso passámos pelo túnel Eng. Duarte Pacheco, e tenho a dizer que mete algum respeito, é um túnel já antigo por onde passa muita humidade, em certas partes parece que está a chover dentro do túnel! Perfeitamente seguro, mas bastante estreito também, foi engraçado atravessar aquele túnel de carro.
O ponto alto do dia foi mesmo as piscinas de Porto Moniz, apesar do tempo não ter estado muito convidativo para a praia, ainda deu para uns mergulhos e umas boas braçadas naquelas piscinas de água salgada. A entrada é paga, mas as condições são bastante boas e está tudo bastante limpo. A piscina central é a maior, com uma profundidade considerável, ainda a atravessámos umas vezes e foi aí que me apercebi que estava mesmo em baixo de forma… Correr não basta, há que nadar também…
Apesar da ilha não ter as dimensões de uma grande ilha como a Grã-Bretanha, as diferenças meteorológicas são notórias entre o sul e o norte da ilha, até em termos de paisagem a diferença é bastante grande. Uma ilha pequena mas com uma grande variedade.
Na parte norte da ilha, onde estão as piscinas, o tempo é menos solarengo, e o mar bastante mais violento do que no sul. Tivemos alguma sorte com o tempo, mas como dá para ver na foto ainda apanhámos algumas nuvens, nada que nos impedisse de nos divertirmos bastante!
O almoço foi também em Porto Moniz, fomos a um restaurante com vista para as piscinas onde comi peixe espada com banana (acho que assada), simplesmente divinal! Comer fruta com peixe para mim foi algo estranho, mas bastante saboroso, adorei e quando voltar vou ter de repetir! Para mim, grande parte da experiência de viajar é a comida, e mesmo sendo parte de Portugal claro que não poderia deixar de experimentar algo novo, foram vários os pratos tradicionais que comi, mas o peixe espada com banana foi mesmo o que me ficou melhor na memória.
O plano original era dar a volta completa à ilha, mas decidimos voltar pela parte norte com mais calma e visitar outras zonas, fizemos imensas paragens para fotos e para nos deslumbrarmos com aquela paisagem de cortar o fôlego. A Madeira é uma ilha bastante acidentada, as escarpas metem bastante respeito e são parte da beleza mais comum da ilha. No regresso passámos por uma pequena localidade, chamada de Ponta Delgada (tal como nos Açores), a foto abaixo fala por si.
Infelizmente não deu para irmos a Santana, onde estão as tradicionais casas Madeirenses, o tempo não deu para tudo e acabámos por ter de cortar em algumas partes. Ainda assim, aproveitámos as nossas paragens para alguma brincadeira e por sugestão de um dos nossos amigos, experimentámos fazer Geocaching em vários pontos de paragem, bem divertido estarmos todos à procura de uma pequena caixinha para registarmos o nosso achado! Devo confessar que raramente me lembro do Geocaching quando viajo, mas é sem sombra de dúvidas uma ferramenta bastante interessante para conhecer alguns locais mais escondidos e menos conhecidos.
O interior da ilha da Madeira, levadas e picos
Ao olhar para o mapa de Portugal e ver aquele pedacinho de terra na costa de Marrocos nunca nos passa pela cabeça que há tanto para ver por lá, já o disse antes e volto a repetir, a ilha da Madeira foi uma surpresa mesmo agradável. Um dos tesouros de Portugal que muitos se esquecem de visitar, mas que deviam, todos deviam dar um salto a esta magnifica ilha.
Não esperem encontrar praias paradisíacas, a ilha da Madeira está bem longe do estereotipo de ilha de férias, pouco de praias, pouco de palmeiras, e mesmo muito pouco de areia (que é maioritariamente importada). Mas talvez seja aqui que está a magia da ilha, as expectativas de quem visita já são baixas, uma ilha sem praias de areia? E chegar lá e ficar encantado com tudo aquilo além mar, as falésias de dar vertigens aos mais corajosos, as casas no meio de penhascos quase sem acessos, a mudança de paisagens no espaço de meia dúzia de quilómetros. Quem vai à Madeira e não volta encantado, é porque não saiu da zona do aeroporto.
Levada do Caldeirão Verde
Se há algo que adoro, é caminhar pela montanha ou floresta, e na Madeira não faltam trilhos destes. As levadas e veredas são bem famosas e de grande importância cultural, e até a nível económico foram de grande importância na ilha quando era mais complicado fazer chegar água a certas partes.
Olhando a lista de trilhas que existem na ilha, até custa a acreditar que uma ilha tão pequena tem tanto para explorar. Infelizmente só fui a uma, das mais famosas, que é a Levada do Caldeirão Verde, uma caminhada bem fácil e sempre junto a um curso de água (levada). Recomenda-se que se leve uma lanterna (ou telemóvel com luz), pois pelo trilho temos de passar por dois túneis, e num deles o canal de água está mesmo ao nosso lado, um passo em falso e ficamos todos molhados…, é preciso algum cuidado extra.
O nosso passeio foi bem agradável, talvez a um ritmo demasiado acelerado para o meu gosto, mas foi um passeio que aproveitei imenso para tirar várias dezenas de fotos e respirar aquele ar puro! No final do caminho chegamos ao nosso prémio, a cascata do Caldeirão Verde, uma cascata alta com um lago no fundo onde podemos nadar.
Curiosamente quando lá chegámos não estava ninguém dentro do lago, fomos os primeiros, talvez por a água ser bem gelada! Até os globos oculares me doíam no final, mas é uma água que sabe mesmo bem. Entrei e saí algumas vezes, até doí mas sabe tão bem!! Pelo que me disseram, o caudal da cascata costuma ser bem maior, mas talvez por não ter chovido, desta vez o caudal estava bem estreito, mas a vantagem é que pudemos nadar para debaixo da queda de água.
Depois do banho, fizemos o nosso picnic improvisado, recomendo vivamente a levarem um lanche, ainda é uma caminhada de 6,5km até à cascata, e depois só voltando para trás. O melhor mesmo é fazer uma pausa para comer junto ao lago antes de voltar pelo mesmo percurso.
Cabo Girão e Curral das Freiras
Um dos cabos mais altos da Europa, o Cabo Girão é bem popular para quem visita o Funchal, fica a apenas uns quilómetros de distância e a vista vale bem a pena o desvio. O miradouro foi estendido de forma a que quem lá vai esteja mesmo no ar, a 589 metros de altura numa plataforma de vidro. Dá vertigens, dá mesmo!
Do miradouro dá para ver a cidade do Funchal e Câmara de Lobos, e claro, muito mar pela frente! Fizemos uma paragem curta ali antes de nos aventurarmos para o centro da ilha, para o Curral das Freiras. A vila fica bem no coração da ilha, num vale bem isolado que em tempos serviu de refugio a escravos fugidos e outros fugitivos, para lá chegarmos tivemos de passar por alguns túneis, e é bastante impressionante ver o quão isolada aquela localidade é. Completamente rodeada de escarpas das montanhas, a vila hoje em dia é consideravelmente grande, e com grande interesse turístico.
O que mais me impressionou foram mesmo as casas que estão nas falésias, com estradas bem íngremes colina acima. Nem consigo imaginar como aquelas pessoas vivem, os acessos são bem complicados e não é de admirar que volta e meia se vejam noticias de derramamentos de terras, mas verdade seja dita, não há muito mais por onde construir dado o relevo da ilha.
O regresso ao Funchal foi bem divertido, começámos por fazer GeoCaching no miradouro, onde encontrámos uma cache, e enquanto íamos a conduzir íamos vendo onde é que poderíamos encontrar outras caches, e lá fizemos mais uma paragem ou duas. GeoCaching em grupo acaba por ser bem divertido, existe aquela vontade de competitividade e o desejo de descobrir o que vamos encontrar dentro daquela caixinha escondida algures. Além do mais, é também uma forma de descobrirmos sitios menos conhecidos.
Pico Ruivo, o ponto mais alto da ilha da Madeira
O Pico Ruivo é o ponto mais alto do arquipélago da Madeira, com 1862 metros de altitude, e o terceiro ponto mais alto de Portugal. Para o visitar, só mesmo a pé, aliás, dá para chegar lá perto de carro, mas chegar mesmo ao pico, só mesmo a pé por um trilho de uns 2 quilómetros, se não estou em erro.
Assim que estacionámos o carro percebi logo o porquê do nome, a terra é bem vermelha (ruiva), e no ponto mais alto, o pico, é ainda mais óbvia. Tal como noutros pontos da ilha, também existem várias rotas e trilhos até ao Pico Ruivo, nós fizemos a trajectória mais curta, mas há caminhos bem mais complicados que passam por pontos bem mais remotos (e também bem bonitos). Como já é de esperar, a vista é daquelas que dá para ficarmos uns bons minutos a olharmos para a mesma direcção sem nos fartarmos.
Fiquei completamente apaixonado pela ilha da Madeira, e ainda há tanto para eu visitar. O nosso país de facto tem jóias bem valiosas, algumas delas também bem escondidas como a Madeira, que ainda não é alvo de turismo em massa. Vá para fora cá dentro, é um excelente motto, vale bem a pena investir em conhecer melhor o nosso país.
Leave a Reply