Ninguém fica indiferente com a beleza natural da Islândia, são cascatas, geysers, vulcões, glaciares e muito mais. É um país de facto bem mágico, e que sem qualquer sombra para dúvidas, merece uma visita! Um dos locais que mais gostei foi Silfra, a fissura entre duas placas tectócnicas onde é possível mergulhar! Sim, mergulhar entre duas placas tectónicas, uma experiência incrível recomendada a todos!
Algumas curiosidades sobre a Fissura Silfra
Ao contrário do que muita gente pensa quando chega ao Parque Nacional Þingvellir, a Fissura Silfra não existe há milhares de anos. Isso é uma das características mais fantásticas da Islândia, a geografia está em constante mudança, ao ponto de se verem várias mudanças durante uma vida. Ao contrário do que estamos habituados, em que tudo tem milhares de anos.
A Fissura Silfra é bem “jovem”, só tem cerca de 250 anos! Foi formada em 1789 devido a um tremor de terra e ao movimento divergente das duas placas tectónicas. E esta fissura aumenta 2 cm por ano, não é tão visível a olho nu, mas quem por lá trabalha e vive consegue ver esta diferença.
Como referi antes, esta fissura separa duas placas tectónicas, as placas Euroasiática e a Norte Americana. Existe uma ponte que liga estas duas placas, portanto nesse local é possível, tecnicamente, estar entre dois continentes!
A Fissura Silfra está conectada ao maior lago natural da Islândia, o Lago Þingvallavatn. Que sendo um lago, naturalmente tem algumas espécies de peixes. No entanto, por algum motivo, os peixes não se aventuram para dentro da fissura. Julgam que o motivo disto tenha a ver com a actividade vulcânica, ou pelas correntes subaquáticas, ou devido aos mergulhadores que por lá passam todos os dias.
Algumas características que fazem da água em Silfra bem especial
Uma das coisas que mais me fascinou sobre a Fissura Silfra foi a quantidade de factos sobre a água! Sim, sobre a água que está na fissura! Surpreendeu-me tanto, que decidi dedicar uma pequena secção deste artigo só à água em Silfra.
Começando pela origem da água, esta vem do segundo maior glaciar da Islândia, o Langjökull. No entanto, a água não chega à fissura por nenhum rio com origem no glaciar nem nada do género, é por infiltração nas rochas. Não existe nenhum rio a desaguar no lago, a água vem do glaciar e chega ao lago por filtração nas rochas vulcânicas. Esta filtração demora entre 50 a 100 anos até essa gota de água chegar ao lago. Ou seja, com excepção na chuva e neve, as gotas de água daquele lago têm pelo menos 50 anos!
Esta filtração torna a água tão pura, que é perfeitamente seguro bebê-la durante os mergulhos! Isto se aguentarem a temperatura da água… O que faz disto outra das características da água em Silfra. A temperatura da água é constante durante o ano todo, com uma pequena variação entre 2ºC e 4ºC. Sim, se quiserem mergulhar em Silfra, não importa a altura do ano, a água será sempre bem fria!
Enquanto esperávamos para mergulhar, uma das pessoas da equipa da empresa de mergulho contou-nos que uns americanos pensaram que a água se manteria sempre naquela temperatura, independentemente do local. Então colocaram a água no radiador do carro a pensarem que iria funcionar como anti-congelante…, o que claramente não resultou.
Mergulhar na Fissura Silfra
A primeira coisa a ter em conta antes de sequer se pensar em mergulhar em Silfra, é se temos os requisitos necessários para o podermos fazer. Não é simplesmente chegar e mergulhar, obviamente, mas também é necessário cumprir alguns requisitos de segurança. Nomeadamente ter um curso de mergulho de fato-seco ou pelo menos 10 mergulhos registados com fato-seco nos últimos dois anos.
O que é isto do fato-seco? O fato-seco é um fato de mergulho, em que não entra absolutamente água nenhuma. É de tal forma isolante, que podemos (e devemos) levar roupa normal por baixo para nos mantermos quentes durante o mergulho.
E porquê a necessidade de um fato-seco? Com uma temperatura de água entre os 2ºC e os 4ºC, acreditem, vão querer poder usar um fato-seco e poderem usar roupa por baixo!!
Mas se não tiverem nem curso de mergulho com fato-seco, nem um registo de 10 mergulhos com fato-seco nos últimos dois anos, isso não será impedimento para terem uma experiência memorável na mesma. Dos requisitos acima, eu não cumpria com nenhum. Na altura nem curso de mergulho tinha sequer, quanto mais experiência com fato-seco. No entanto, existem outras opções para quem não pode mergulhar.
Uma das actividades mais populares na Fissura Silfra até é snorkel, que não requer qualquer tipo de experiência prévia. Os riscos são bem menores, apenas uns arranhões nas mãos se formos distraídos, e um pouco de frio. Raramente resulta em algo grave, mas mesmo muito raramente.
Para o snorkel também é necessário usar um fato-seco, a temperatura da água continua a ser um factor bem importante. E a vantagem de fazer snorkel com fato-seco, é que não há possibilidade de nos afundarmos. Claro que há gente que tenta mergulhar só com o fato-seco, mas a quantidade de ar lá dentro é tal, que estas tentativas acabam por ser bem engraçadas de ver. Imaginem um pato com o rabo para cima, é isto que parece quando alguém tenta mergulhar com fato-seco sem ter o material de mergulho necessário!
Algumas curiosidades sobre mergulhar em Silfra
É o único local no mundo onde é possível mergulhar e fazer snorkel directamente na fissura entre duas placas tectónicas! Caso ainda existissem dúvidas, então aqui fica a confirmação!
Ou seja, em alguns pontos também é possível tocar em dois continentes ao mesmo tempo. Em zonas em que a fissura é mais estreita, ou mais perto do fundo, as duas placas tectónicas chegam a estar a uma distância inferior a dois braços abertos.
Uma das características da pureza da água é um factor importante na visibilidade subaquática, que em Silfra chega a ultrapassar os 100 metros! É uma das águas mais cristalinas e puras do mundo!
Devido à temperatura constante da água, é possível mergulhar em Silfra tanto no verão como no inverno. No entanto, existe um risco maior de os mergulhos serem cancelados no inverno, devido ao facto de o equipamento poder congelar e resultar num perigo para os mergulhadores. Mas se quiserem fazer snorkel, não correm tantos riscos de terem a vossa experiência cancelada.
Sítios de mergulho em Silfra
Sobre sítios de mergulho, existem 4 locais principais, sendo um deles apenas permitido a mergulhadores bem experientes com cursos de fato-seco e de mergulho em caverna. Esta secção chama-se de “Toilet”, e deve-se ao facto de as correntes serem tão fortes, que os mergulhadores são empurrados como se estivessem dentro de uma sanita. Daí o nome “interessante”. Este túnel é a única ligação entre a fissura Silfra e a caverna, que passa em grande parte debaixo da estrada.
Do local onde os mergulhadores entram na água até ao primeiro local a visitar, Silfra Hall, são uns meros 30 metros a nadar. Por debaixo da plataforma encontra-se a entrada para o “Toilet”, mas não vamos para aí. Seguimos a nadar no sentido da fissura até passarmos para o Silfra Hall, que faz ligação a um sistema de cavernas subaquáticas com profundidades máximas de 45 metros. É possível nadar por debaixo de rochas a diversas profundidades nesta secção.
Até chegar ao próximo sítio de mergulho, iremos percorrer uma distância de cerca de 200 metros, com subidas e descidas (se estiverem a mergulhar). Até chegar a um ponto que temos mesmo de chegar à superfície, para passar para a próxima secção. Devido a rochas que ficaram presas na fissura em níveis muito pouco profundos. Até para quem faz snorkel sente esta diferença, é preciso ter algum cuidado nesta passagem para não se magoarem.
O próximo ponto chama-se Silfra Cathedral, a zona mais impressionante do mergulho! Com uma extensão de cerca de 100 metros, do início ao fim da catedral, e com profundidades até 20 metros. A água é tão pura e cristalina, que os mergulhadores conseguem ver a catedral toda de uma ponta à outra!
A zona da catedral termina numa encosta de areia, com profundidades de 2 a 3 metros, e onde a corrente acelera e leva os mergulhadores para a última secção de mergulho.
A Silfra Lagoon, onde a pureza da água e a visibilidade se tornam ainda mais evidentes. A distância de uma ponta à outra é de cerca de 120 metros, e os mergulhadores conseguem ver claramente o outro lado! E chegando ao outro lado é quando o mergulho termina, daí até ao parque de estacionamento é uma pequena caminhada. Excelente para aquecer um pouco mais o corpo depois de um mergulho em águas tão frias!
Algumas coisas a ter em conta antes de mergulhar
Quem quer mergulhar em Silfra, claramente tem como objectivo tirar fotografias e/ou filmar com uma GoPro. De realçar que as baterias tendem a descarregar muito mais rapidamente com baixas temperaturas. O snorkel durou mais ou menos meia hora, e se querem filmar debaixo de água, preparem-se com uma bateria resistente! 30 minutos pode parecer pouco, mas é o suficiente para ficarem sem bateria e perderem aqueles momentos e imagens que querem registar.
O fato-seco protege o corpo quase todo, mas algumas partes ficam mais desprotegidas. Irão deixar de sentir a cara em cerca de 2 minutos, de início irá doer um pouco, mas a cara irá ficar dormente com o frio. No final irão sentir mais este frio, quando o vento bater-vos nas orelhas, mas dentro de água até irão esquecer que a cara está em contacto directo com água próxima do ponto de congelamento.
Já no que diz respeito às mãos, temos umas luvas onde é suposto a água entrar. Não se preocupem com isto, a temperatura do nosso corpo irá aquecer essa água, e as mãos irão ficar confortáveis. Mas há que evitar mexer as mãos, senão esse movimento irá fazer a água circular e bombear a água morna para fora das luvas, enquanto mais água gélida nos entra junto aos dedos.
Pode parecer complicado imaginarem-se a nadar sem usar os braços, mas o fato-seco é como uma bóia gigante. Conseguem nadar perfeitamente com os braços atrás das costas, sem os mexerem.
Agora o problema pode colocar-se é nas filmagens e fotografias… Eu sofri bastante com o frio nas mãos, porque queria filmar e fotografar tudo! Ou seja, estava em constante movimento, constantemente a mexer os braços com a GoPro para tentar captar algumas imagens. Não é agradável.
Para fazer snorkel, mesmo quem não sabe nadar muito bem pode perfeitamente fazer snorkel em Silfra. Tal como referi antes, o fato-seco é uma bóia gigante, podem tentar afundarem-se, mas não irão conseguir. Mas incentivo a que o tentem fazer, vai ser bem divertido para os outros verem! Para vocês já não tanto…
Onde fica a Fissura Silfra e como chegar?
Silfra fica no Parque Nacional Þingvellir, a cerca de uma hora de carro de Reiquiavique. É possível de ir de carro até perto da Fissura e depois caminhar um pouco, mas o parque de estacionamento mesmo junto à Fissura está reservado para os participantes e para as agências de mergulho.
A estrada até ao Centro de Visitas do Parque Nacional Þingvellir é bastante boa, mas depois até Silfra terão de conduzir por uma estrada de terra batida. A estrada é perfeitamente transitável por qualquer carro, e julgo que nem sequer está interdita pelas agências de aluguer de carros.
Existem agências de turismo que organizam os mergulhos e transporte desde Reiquiavique. Mas também podem simplesmente irem directamente de carro até ao Centro de Visitas, e de lá juntarem-se ao grupo para o qual marcaram o mergulho previamente.
Para quem não quer ir mergulhar, pode simplesmente conduzir até à Fissura Silfra, e fazer umas caminhadas pela zona. Obviamente, sem danificar absolutamente nada!
Seja qual for o motivo da visita, Silfra é um dos muitos locais fantásticos a visitar na Islândia. Faz parte do roteiro do Círculo Dourado, e por isso acaba por ser bem popular. Não é à toa, pois é um local muito especial ao qual recomendo vivamente uma visita, de preferência com mergulho!
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