Há 5 anos que vivo na Irlanda, e é frequente pedirem-me dicas sobre o que visitar ou o que fazer. Já escrevi inúmeros artigos sobre as minhas escapadelas e viagens, mas nenhum guia! Portanto, nada melhor que começar pelo país onde vivo para escrever este mini-guia. De realçar que este guia é para um itinerário alternativo no sul da Irlanda. Portanto nem sequer vou sequer mencionar em Dublin ou outras zonas mais populares. Não faltam artigos sobre coisas a experimentar na capital. Neste artigo vou-me focar apenas no sul da Irlanda, onde vivo e conheço bem melhor.
Recomendações
Com cidades pequenas e muitas zonas rurais, não é à toa que a Irlanda é conhecida como a Esmerada do Atlântico. Não faltam zonas verdes, mas para isto é preciso muita água… Mas isso também não é problema neste país, cai muita do céu… Portanto, venham prevenidos com um casaco impermeável. Porque não um chapéu de chuva? Porque também faz algum vento, e um chapéu de chuva na maioria dos casos só irá proteger a cabeça e pouco mais. A minha recomendação é mesmo um casaco com capuz e impermeável.
A melhor forma de conhecer a Irlanda é de carro, muito mais tranquilo e fácil para mudar de planos. Os transportes públicos e excursões são uma possibilidade, mas não tão boa… Conduzir do lado errado esquerdo da estrada não é nada complicado, uns 10 minutos e já se habituaram. O carro dá uma liberdade e oportunidade de conhecer zonas que de outra forma não iria ser possível.
Dia 1 – Cork
Este guia assume que começam a viagem a verdadeira capital do país, pelo menos é o que os locais dizem. Cork é a segunda maior cidade da República da Irlanda, e fica bem no sul da ilha. É também a capital do condado com o mesmo nome, onde vamos passar parte da nossa viagem.
Apesar de ser uma cidade, e dar para passar uma semana em Cork e vilas suburbanas, apenas vamos dedicar um dia à cidade. Acordar cedo, e começa por ir ao Mercado Inglês tomar o pequeno-almoço e aproveitar para conhecer um dos edifícios mais emblemáticos da cidade. Pisar o chão onde a rainha do Reino Unido esteve recentemente e fez história – a primeira vez em 100 anos que um monarca do Reino Unido vem à Irlanda, desde que é república.
Para mim, o segundo ponto a não perder na cidade é mesmo a Universidade, um dos meus sítios preferidos para levar amigos a conhecerem. E a melhor forma de lá chegar é mesmo passando por outros pontos de interesse, seguindo uma das muitas rotas marcadas pela cidade.
Dizem os locais que Cork tem um pub por cada dia do ano, vir à Irlanda e não experimentar uma das muitas cervejas locais é quase como não conhecer o país. Apesar da Guinness ser a cerveja mais conhecida da Irlanda, aqui no sul discordam disso, eles têm a própria cerveja nacional, a Murphy’s. Como dizem aqui, Guinness é cerveja para turista beber. Uma coisa é certa, as cervejas pretas (stouts) sabem bem melhor quando a torneira está constantemente a ser usada, dizem eles cá e eu confirmo. Não sei qual o motivo, mas a melhor forma de pedir uma stout é ver o que a maioria das pessoas está a beber, e pedir uma igual.
Dia 2 – A aventura começa, rumo ao sul
Grande parte deste itinerário vai passar por parte da maior rota costeira da Europa, a Rota Selvagem do Atlântico, e o primeiro sítio onde vamos parar é mesmo o primeiro (ou último) ponto da Rota do Atlântico, a belíssima vila de Kinsale. Vamos começar pela vila, percam-se pelas pequenas ruelas com casas coloridas que tão caracterizam as pequenas vilas da Irlanda, e continuem a caminhada junto ao mar em direcção ao Forte Charles. Na minha opinião, esta caminhada vale bem a pena, e podem até fazer uma paragem num pub que fica em frente à baia, excelente ponto intermédio antes de chegar ao forte.
De Kinsale, o melhor a fazer é mesmo seguir as indicações para “norte” da Rota Selvagem do Atlântico, mas atenção que estamos é a ir para sul. Confuso? Nem por isso, estamos a seguir em direcção ao final da rota, que fica bem a norte, mas para lá chegarmos temos de ir para sul por uns cento e tal quilómetros. A indicação de Kinsale a Mizen Head de facto pode dar origem a algumas confusões, o melhor é mesmo pensar no destino final, que fica bem a norte na fronteira com a Irlanda do Norte.
Apesar ter poucas recomendações quanto a este dia, vai ser um dia longo de muita condução e muitas paragens, pelo caminho vão ver paisagens fantásticas e não vão faltar oportunidades para tirar fotografias. A Irlanda não é conhecida como um destino de praia, mas vão encontrar muitas praias extensas pelo caminho, se se sentirem corajosos vale sempre a pena dar um mergulho nas águas frias do Atlântico Norte…
Dia 3 – De Rosscarbery ao ponto mais a sul da Irlanda
De dia 2 para dia 3, a minha recomendação é a passarem a noite em Rosscarbery, e talvez o melhor sitio para dormir será mesmo o Celtic Ross Hotel, a vista é brutal, e a vila extremamente agradável! Acordar ali é do melhor, uma caminhada até à praia, ou mesmo à volta da lagoa é a melhor forma de começar o dia antes de nos voltarmos a meter à estrada.
Rosscarbery e Portugal estão unidos por uma tragédia, o terramoto de 1755. O fundo da lagoa foi bastante afectado pelo tsunami que também chegou à Irlanda, mas com menor intensidade. Aliás, a lagoa muda todos os anos, com o movimento das correntes, quando está maré baixa são criados canais alternativos para a água vazar, e isso provoca a deslocação de areias e formação (ou destruição) de bancos de areia.
De Rosscarbery, continuamos pela rota do Atlântico e vamos fazer uma breve paragem no sitio do Circulo Megalítico Drombeg. Com sorte o tempo está bom, e dá para aproveitar devidamente para ver as paisagens e conhecer um pouco mais dos povos que ali habitavam.
Ainda mais a sul, passamos por Skibbereen, uma vila fundada por refugiados de Baltimore, que fugiram da vila após esta ter sido atacada por piratas. Em Skibbereen devemos procurar chegar ao lago Hyne, o maior lago de água salgada da Europa, que durante a maré alta fica tipo lagoa. Para lá chegar não é complicado, mas mais uma vez, há que ter em atenção a indicação e cuidado ao conduzir nas estradas estreitas. Aqui conduz-se do lado esquerdo…
Com tanto para ver, o dia termina em Baltimore, uma pequena vila mesmo no sul da Irlanda e do condado. Não, ainda não atravessámos o Atlântico. O ideal será procurar onde dormir nesta pequena vila, para aproveita o dia seguinte logo desde o acordar.
Dia 4 – Cape Clear
O plano para este dia irá depender em muito da altura do ano, convém saber bem os horários dos ferries e encontrar alojamento onde ficar na ilha. Na altura do verão recomendo vivamente acamparem ou a ficarem num dos yurts que existem durante os meses de verão. E para voltar, mais uma vez, o horário dos ferries é bastante importante. De realçar que não dá para levar o carro para a ilha, e que terão de andar muito a pé para explorarem a ilha devidamente, mas irá valer bem a pena.
A ilha é o local habitável mais a sul da Irlanda, e de uma zona da ilha até dá para ver mesmo o ilhéu mais a sul. Este ilhéu é tido como o último ponto que os emigrantes irlandeses viam quando iam para os Estados Unidos, o farol Fastnet.
Dia 5 – Mizen Head e Bantry
Dia de acordar cedo! A primeira coisa a fazer é apanhar o primeiro ferry de volta a Baltimore, se não aproveitaram para conhecer a pequena vila no terceiro dia, é hora de aproveitar mas ainda vamos ter de andar bastante… Recomendo uma visita ao castelo, apesar de ser minúsculo é cheio de histórias e lendas, muito interessante para conhecer, e do topo tem uma vista lindíssima da baia e das ilhas em frente a Baltimore.
Mas o nosso primeiro ponto de visita ainda fica longe, e há que voltar ao carro e metermo-nos na estrada! Em direcção a Mizen Head, que apesar de ser conhecida como o ponto mais a sudoeste da Irlanda (ilha principal), não o é, esse ponto fica lá bem perto mas não é tão conhecido. Antes de lá chegarmos, podemos descansar um pouco e dar uma caminhada pela praia de Barley Cove (Baia da Cevada), facilmente se percebe o porquê desse nome assim que se chega. Aí já estamos bem perto de Mizen Head, mais uns minutos a conduzir e estamos lá.
Apesar de se pagar para o passeio, se estiver bom tempo é mais uma daquelas coisas que recomendo vivamente a fazerem. Mas estejam bem protegidos contra o vento, pois é uma zona mesmo muito ventosa. Se estiver de chuva…, bem, sinceramente acho que é um convite para ficarem absolutamente encharcados, a vista continua a ser bem bonita, mas sente-se bem na pele… Sob estas condições, talvez seja melhor nem sair do carro…
Se estiverem ainda enxutos, ou predispostos a viajar molhados, depois da visita ao cabo é hora de se meterem à estrada em rumo ao destino final do dia, Bantry.
Dia 6 – Bantry e Península de Beara
Outro dia para muita estrada, mas antes um pequeno-almoço em Bantry e uma visita à Casa e Jardins de Bantry, um palácio cheio de história nesta pequena localidade, onde ainda os proprietários vivem.
Quando a barriga estiver cheia, e já bem acordados, é tempo de voltar à estrada e visitar uma península não tão turística e bem mais rural, a Península de Beara. É aqui que vamos sair do condado de Cork pela primeira vez, mas só em parte da península, pois esta é dividida pelos condados de Cork e Kerry. Um dia inteiro não basta para aproveitar devidamente esta área, há mesmo muito para explorar e descobrir.
Um dos pontos interessantes está mesmo na ponta da península, o único teleférico da Irlanda que liga à pequena ilha de Dursey. Não faz parte dos nossos planos visitar esta pequena ilha, mas se tiverem tempo (por exemplo, se forem no Verão), então talvez seja uma experiência interessante de ter.
Um dos problemas desta península é que existe mesmo muito para ver, e por vezes acabamos por ter de voltar para trás em alguns troços da viagem. Uma dessas partes é o Healy Pass, que atravessa a península de lado a lado na zona do meio…, ou seja, ou fazemos a rota em forma de “oito” ou teremos de voltar para trás. De qualquer das formas, temos sempre de passar duas vezes na mesma parte. De realçar que esta rota continua a fazer parte da Rota Selvagem do Atlântico.
Esta é uma das zonas mais virgens que conheço no sul da Irlanda, é excelente para fugir da realidade e abraçar a Natureza. As minúsculas vilas que se encontram pelo caminho são bastante pitorescas, e com um ar bem menos turístico do que as que vimos nos dias anteriores. Se quiserem aproveitar mesmo bem o tempo na península, sugiro procurarem um B&B algures lá pelo meio, assim há menos pressa para conhecer a zona. Mas em alternativa sugiro a dormirem em Kenmare, pois vamos passar por essa vila na nossa rota de volta a Cork amanhã.
Dia 7 – Parque Nacional e vila de Killarney
Último dia do nosso roteiro pelo sul da Irlanda, vamos passar por parte de uma das rotas turísticas mais visitadas da Irlanda, o Ring of Kerry (Anel de Kerry). Uma rota circular com paisagens fantásticas e com passagem por vilas bem bonitas, mas muito mais turísticas do que as que encontrámos até agora. Começando por Kenmare, onde passámos a noite, e continuamos em direcção a Killarney, pela Estrada Nacional N71.
Pelo caminho recomendo pararem o máximo de vezes possível, e verem bem a paisagem que têm à volta, algures ali pelo meio está o ponto mais alto da Irlanda, Carrauntoohil, um pico com apenas 1038 metros de altitude. Se o quiserem visitar, então terão de reservar um dia inteiro para lá chegarem, e têm de estar em forma, pois a única forma de lá chegar é por trilhos pela montanha. Mas vale bem a pena o esforço, já lá estive no topo e a vista é de facto de tirar o fôlego…, literalmente!
Durante grande parte do troço entre Kenmare e Killarney vamos estar dentro do Parque Nacional de Killarney, onde vão ter oportunidade de ver os belíssimos lagos que estão na área do parque. A certa altura têm um miradouro chamado Ladies View (Vista das Senhoras), de paragem quase obrigatória. Continuando a descer, irão chegar à zona da Cascata de Torc e montanha com o mesmo nome, mais outro local que recomendo vivamente a pararem, aliás, vamos estacionar o carro e fazer uma das várias caminhadas que estão assinaladas na zona da cascata, esticar as pernas e sentir o parque nacional!
Por esta altura já devem estar bem estafados, o que espero que seja resultado de uns dias muito bem passados. Portanto recomendo um jantar típico irlandês em Killarney, e passarem a noite num dos muitos B&Bs que existem pela vila. A nossa rota termina aqui, na manhã seguinte podem continuar a vossa descoberta pela Irlanda, ou simplesmente voltarem para Cork e depois casa!
Mapa da Rota
Faltam marcar alguns pontos neste mapa, infelizmente o Google Maps não deixou adicionar todos os pontos, mas a rota será similar ao mapa abaixo.
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