Aqui na Irlanda, o condado de Kerry tem a fama de ser o condado solarengo. Sinceramente, não sei onde foram buscar essa teoria, aqui chove com (demasiada) frequência, mas com chuva ou sol, é uma zona que vale bem pena visitar.
Uma das rotas mais conhecidas é o Ring of Kerry, um percurso circular de 179 km, em que parte do mesmo está na Rota Selvagem do Atlântico, e também uma das rotas que conheço melhor pois é onde levo quem me vem visitar. Vale bem a pena, tal como disse, mas após tantas vezes que fiz essa rota…, arggg… Então desta vez, foi mais uma dessas (muitas) vezes que fui fazer a rota.
Ao acordar a vontade tendia para valores bem negativos, pois deitei-me tarde na noite anterior devido a um jantar bem regado, e com pouca vontade a boa disposição também tende para valores baixos. Ainda bem antes do sol nascer, lá consegui sair da cama, tomar duche e preparar as coisas para o fim-de-semana, e meti-me à estrada. A primeira paragem foi logo na área de serviço, achei por bem atestar o carro para evitar paragens desnecessárias pelo caminho. Pago. Volto para o carro… E ele não pega.
Umas semanas antes isso aconteceu-me, e o problema era com um cabo solto que conecta à bateria, desta vez nem pensei que pudesse ser o mesmo, e como não percebo nada de carros telefonei ao meu irmão (que não mora longe). Ele meio a dormir foi-me ajudar, e infelizmente ele também não se lembrou de que poderia ser o mesmo problema, pois desta vez o carro até tentava ligar. Mas sim, era o mesmo problema… Lá tive de chamar a assistência em viagem, que demorou uns 40 minutos a chegar, mas resolveu o assunto bem rápido. Resolvido, de regresso à estrada! Paragem em Macroom para as visitas se juntarem à viagem, e rumo ao Ring of Kerry.
A primeira paragem, no Ring of Kerry, foi na Queda de Água de Torc, um dos pontos de maior interesse na rota toda e parte do Parque Nacional de Killarney. É uma zona fantástica, com vários trilhos para percorrer a pé, passando pelo pico com o mesmo nome, e com vistas de cortar a respiração. Apenas parámos para ver a queda de água, no Inverno os dias são bem mais curtos e a rota a fazer ainda era longa. Foi aí que me apercebi de outra falha na viagem…
É do conhecimento geral que adoro tirar fotos, não sou bom nisso, mas gosto do acto de tirar fotografias. Então, claro que levei a minha câmara comigo, com alguns acessórios e cheio de vontade de ver aquela rota mas desta vez no Inverno. O caudal da queda de água estava fenomenal, acho que nunca vi tanta água passar ali, excelente para tirar algumas fotos…., não fosse eu…, ter-me esquecido de todos os cartões de memória em casa. Sim, fui carregado com material de fotografia, para não poder tirar uma única foto com a câmara. Valeu-me o iPhone, para algumas fotos no Instagram…
Tentei manter o optimismo, afinal de contas viajar não é só coisas boas, há que aproveitar os momentos menos bons para rir, e talvez até perder menos tempo com a câmara e mais tempo a apreciar melhor a zona. Seguimos viagem, com muitas mais paragens pelo caminho, e num ritmo ligeiramente acelerado. Tal como disse, no Inverno os dias são bem mais curtos, o objectivo era mostrar a zona, portanto teve de ser ligeiramente a correr…
Chegada a um dos melhores miradouros da rota, bem perto de Waterville, parámos para almoçar. Um piquenique dentro do carro, onde ficámos parados uns 15-20 minutos, para relaxar um pouco e para comer. O tempo estava de chuva, portanto nem deu para sair muito do carro, pensámos que poderia ser boa ideia esperar um pouco, caso o tempo viesse a melhorar.
Hora de continuar a viagem, não fosse… O carro ter ficado sem bateria, novamente. Não, não foi culpa do alternador, foi mesmo burrice minha. Em cada paragem que fiz parei mesmo o carro, com tempo de chuva levei sempre as luzes ligadas, aquecimento ligado, e na paragem para almoçar esqueci-me das luzes ligadas enquanto o carro estava parado… Ora então, a curta viagem não deu tempo para o carro carregar a bateria, então lá tive de voltar a chamar a assistência em viagem… E as desventuras terminaram por aqui, o resto da viagem foi bem tranquilo, passámos pelo The Skelling Ring, de onde dá para ver as ilhas com o mesmo nome (e que aparecem no último filme da Guerra das Estrelas).
Após aquelas desventuras, em cada paragem o carro nunca foi desligado, mas desligava as luzes para poupar alguma bateria…, casa arrombada trancas à porta? As ilhas Skelling fazem parte do meu plano para este Verão, ou talvez quando voltar da minha próxima grande aventura, é um dos pontos mais fantásticos da Irlanda e ainda assim não tão turístico (talvez depois do filme venha a ser). O acesso não é dos mais fáceis, é necessário carro, e depois um pequeno ferry até à ilha principal, ou seja, requer algum planeamento.
A noite passámos na vila de Dingle, a peninsula era o plano para o dia seguinte. Já ali tinha estado uns anos antes, mas o mau tempo foi tal que pouco deu mesmo para ver, apenas nevoeiro e muita chuva. Desta vez foi bem diferente, o frio bem mais agressivo, mas menos chuva e nada de nevoeiro. Ao chegarmos deixámos as coisas no B&B, e fomos dar uma volta pela vila e procurarmos algum restaurante para jantar. A vila é bem bonita, bem do estilo característico das vilas irlandesas, mas bem mais turística. No Verão deve estar sempre cheia de gente… Mas nem sequer fomos a um pub, a culpa totalmente minha, depois do jantar da noite anterior e das trapalhadas do dia, o cansaço já me pesava demasiado e acabámos por voltar para o B&B logo depois de jantar. Dormi que nem um bebé, umas 10 horas!
Na manhã seguinte fomos dar a volta pela peninsula, que também faz parte da Rota Selvagem do Atlântico, e foi como que a visitar pela primeira vez. O tempo muda mesmo a perspectiva que temos sobre um local, e ver aquelas paisagens fantásticas uma vez mais, mas com melhor tempo e com neve no topo dos picos é algo completamente novo. Pena que não pude tirar fotografias decentes com a minha câmara…, foram várias as vezes que mencionei o facto de me ter esquecido dos cartões de memória…, e as fotos com o iPhone mal davam para perceber que havia neve… O dia foi bem mais curto, a peninsula é bem mais pequena e não perdemos parte da manhã com desventuras, depois de Dingle parámos em Tralee para beber um café e darmos um passei pela vila, e por fim regressámos a Cork.
Sugestões para a rota
O Ring of Kerry dá para ver num dia, mas sinceramente não recomendo uma volta tão rápida. Existe imenso para ver, mesmo muitos pontos de paragem para explorar, com trilhos, lagos e vilas pelo caminho. Existem várias excursões que saem de Cork para a rota de um dia, mas é muito a correr e com cada minuto contado. A minha recomendação é fazerem em dois dias, pelo menos.
Quanto à Peninsula de Dingle, é bem mais relaxante. Existe muito para ver também, e há quem alugue bicicletas na vila para percorrer a peninsula (requer boa preparação física). Visitar Dingle é para um fim-de-semana sem preocupações, um dia dá perfeitamente, dois dias é para descontrair.
O Skelling Ring é um detour do Ring of Kerry, é engraçado de percorrer e dá para integrar facilmente na rota principal. Mas se forem visitar as ilhas, então aí contem com um dia apenas só para esse plano.
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