Conhecer Montenegro num dia parece muito, não parece? Mas depois olhamos para o mapa e pensamos O país até é pequeno, deve dar na boa…
Pois, mas não dá. Claro que não, há sempre imenso para ver e conhecer, só este pequeno país tem 5 Parques Nacionais. 5! E sabiam que Portugal apenas tem um? É verdade, mas explico mais abaixo o porquê disso. Quanto a Montenegro, quando se tem pouco tempo tenta-se sempre aproveitar ao máximo, por vezes é uma boa decisão, outras vezes mais valia ficar a dormir na praia. Felizmente, neste caso foi uma boa decisão.
Deixei os planos em aberto, nem sabia ao que ia. Quando cheguei ao hostel vi que tinham um roteiro que parecia interessante, então inscrevi-me. Excelente oportunidade para conhecer outras pessoas, e excelente oportunidade para conhecer algo sobre o país, parecia-me o plano ideal para um dia em que não tinha nada planeado. Montenegro é um país bem pequeno e recente (como independente), mas dada a localização geográfica já estava a contar com muita história e curiosidades sobre o país. Não fiquei desiludido!
O primeiro ponto (importante) de paragem foi o Mausoléu de Njegoš no Parque Nacional Lovcen. O Mausoléu mais elevado do mundo, onde está sepultada a pessoa mais importante para os Montenegrinos, o prince-bispo Njegoš. O Mausoléu fica no segundo ponto mais alto do Parque Nacional, e a vista é de tirar o fôlego, literalmente… Para lá chegar acima, temos de subir imensos degraus, parece que nunca mais acaba, mas vale bem a pena. Importante referir que a visita não termina dentro do Mausoléu, há mais para ver por detrás do mesmo. No final de um caminho de uns 100 metros está um dos miradouros, de onde dá para ver o mar! Num dia de céu limpo como o que tivemos, é mesmo de ficar ali a apreciar a vista.
Como foi uma visita guiada, foi também repleta de curiosidades, falámos imenso sobre Njegoš, o facto de ser uma das pessoas mais inteligentes que por ali passou, falar fluentemente vários idiomas, e o facto de ser bastante atraente e desejado pelas mulheres… De relembrar que ele também era bispo, e segundo o nosso guia, ele morreu com sifilis… Claro que o guia fez algumas piadas, mas esta não é a informação oficial. Pelo que pesquisei, existe mesmo muito pouco a falar do assunto.
Porque é que só temos um Parque Nacional em Portugal?
Para ter a certeza do que falo, enviei um email para o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, e a resposta que recebi não poderia ser melhor. Deu para perceber porque é que apenas temos um Parque Nacional, e quais as diferenças entre Parque Nacional e Parque Natural. A resposta que recebi encontra-se citada abaixo, na integra:
Por Parque Nacional entende-se “uma área que contenha maioritariamente amostras representativas de regiões naturais características, de paisagens naturais e humanizadas, de elementos de biodiversidade e de geossítios, com valor científico, ecológico ou educativo. A classificação de um Parque Nacional visa a proteção dos valores naturais existentes, conservando a integridade dos ecossistemas, tanto ao nível dos elementos constituintes como dos inerentes processos ecológicos, e a adoção de medidas compatíveis com os objetivos da sua classificação.”
Enquanto que por Parque Natural entende-se “uma área que contenha predominantemente ecossistemas naturais ou seminaturais, onde a preservação da biodiversidade a longo prazo possa depender de atividade humana, assegurando um fluxo sustentável de produtos naturais e de serviços.”
A grande diferença reside na existência de regiões naturais e na dependência da atividade humana para a preservação da biodiversidade existente. Em Portugal quase todo o território é constituído por paisagens e ecossistemas fortemente humanizados, e muitos deles dependem da manutenção de determinadas atividades humanas para continuarem a existir e para se manterem as condições que deram origem à biodiversidade que neles se encontra.
Existem ainda as Reservas Naturais, habitualmente áreas mais pequenas do que os Parques, mas com elevadíssimo valor para a conservação que correspondem a “uma área que contenha características ecológicas, geológicas e fisiográficas, ou outro tipo de atributos com valor científico, ecológico ou educativo, e que não se encontre habitada de forma permanente ou significativa. A classificação de uma Reserva Natural visa a proteção dos valores naturais existentes, assegurando que as gerações futuras terão oportunidade de desfrutar e compreender o valor das zonas que permaneceram pouco alteradas pela atividade humana durante um prolongado período de tempo, e a adoção de medidas compatíveis com os objetivos da sua classificação.”
Mais informação também pode ser encontrada aqui.
Do Mausoléu, fomos tomar o pequeno almoço numa pequena vila junto ao Parque Nacional, Njeguši, a terra Natal da dinastia que reinou em Montenegro por mais de 200 anos. Nessa localidade tivemos a oportunidade de provar presunto de Montenegro, que curiosamente está banido da União Europeia devido à quantidade de sal usado? Sério? Como pequeno almoço também provámos uma aguardente…, demasiado cedo? Não sei, mas tinha de provar!
Dalí seguimos até Cetinje, a antiga capital de Montenegro e ainda onde fica a residência oficial do Presidente e algumas embaixadas com edifícios bem bonitos. Andámos um pouco pela cidade para a conhecer, fomos até a um museu, de onde dá para ver uma maquete do relevo do país… O nome diz tudo, o país está todo numa cordilheira, é simplesmente fascinante! Algumas das embaixadas foram reaproveitadas como bibliotecas e outros edifícios públicos, enquanto fazíamos o passeio a pé o guia foi-nos explicando um pouco da história recente do país. O porquê de terem ficado independentes com um referendo apenas, enquanto que o Kosovo não consegue, o motivo é simples, o país já existia como tal antes da União. E quando tudo se separou, ficou como “Sérvia e Montenegro“, era este o nome do país sem declaração de soberania. O referendo foi fácil, e a transição ainda mais fácil.
Claro que surge a questão da moeda, como funcionava? O guia como piada disse que era bilionário…, a moeda local estava tão desvalorizada que os salários eram em bilhões de Dinares (Sérvios). Curiosamente, a zona de Montenegro tinha uma vantagem, em acordo com a Alemanha podiam usar o Marco Alemão, ou seja, não teriam problemas com desvalorizações, apenas teriam de converter os salários assim que recebiam. Questão de horas poderia significar uma perda significativa de dinheiro. Por isso, hoje usam o Euro, ainda que não sejam parte integrante da União Europeia. Eles têm permissão para usar a moeda da UE, e assim não sofrem com os problemas de desvalorização, e até para turismo tudo se torna bem mais fácil.
O próximo ponto de visita era opcional, passeio de barco pelo rio Crnojevica, que desagua no lago Skadar, o maior lago dos Balcãs e também um Parque Nacional. No que respeita a flora e fauna, é divinal! Tantos pássaros, um paraíso para quem gosta de fotografar e ver aves. No entanto, fiquei algo desiludido com a ligeira poluição no rio…, várias garrafas de plástico a boiar…, e tendo em conta que estávamos num Parque Nacional, a decepção acentua-se um pouco. Mas ignorando isso, é algo talvez a parte que mais gostei da viagem, é um rio lindo e de uma paz brutal! Ao regressarmos ao pequeno porto, fomos almoçar, e claro…, peixe! O restaurante bem castiço, com vista para o rio e no meio do nada, acho que ali já estava completamente apaixonado por Montenegro.
O último ponto da viagem foi Budva, uma localidade costeira bem perto de Kotor, onde fomos à praia! Mas antes da praia demos uma volta pelas muralhas da vila, onde reparámos alguns sinais em Russo. Sim, russo, não apenas cirílico (que seria de esperar vindo da Sérvia). Como sei isso? Uma das pessoas que ia na excursão comigo é filho de russos! Australiano e filho de russos, quais as probabilidades? Ele foi a minha companhia durante quase o tempo todo em Kotor, e por coincidência acabámos na mesma excursão, excelente companhia!
E lá fomos até à praia, uma pequena praia mesmo junto à vila, depois de uns banhos de sol fomos nadar ao que começo a ouvir alguém falar em Português com pronuncia brasileira…, um grupo de brasileiros junto às bóias! Completamente bêbados, com 1 copo de vinho branco na mão, e…. com um telemóvel a tirarem fotos e a filmarem! Como ri, e ter de traduzir aquilo tudo para o Australiano? Ainda mais me ria! Ver o brasileiro a nadar com o telemóvel na mão para evitar molhá-lo, genial! Mas que grande Camões!
Foi um tempo mesmo muito bem passado na praia, para relaxar depois de um dia inteiro a passear de um lado para o outro. Não fosse…, o relógio ter avariado dentro de água… Supostamente era à prova de água…
Depois só faltava o regresso a Kotor, passando por Jaz, uma praia junto a Budva onde estavam a decorrer uns concertos com gente bem famosa (não me recordo de quem agora), e com filas intermináveis…, estivemos parados imenso tempo no trânsito até podermos seguir para Kotor, mas finalmente chegámos ao hostel!
Leave a Reply