Andar de comboio é, para mim, uma das melhores formas de viajar. Conforto, sem filas de trânsito, e muitas vezes passando por zonas lindíssimas e remotas. O Glacier Express era um sonho que tinha há muitos anos, e finalmente tive a oportunidade de me aventurar nesta viagem que atravessa parte da Suíça pelos Alpes.
Um pouco sobre a rota do Glacier Express
A viagem do Glacier Express é uma viagem de cerca de 8 horas que liga as localidades de St. Moritz a Zermatt passando por vários vales glaciares. Mas ao contrário do que o nome da rota dá a entender, não passamos mesmo pelos glaciares. Aliás, provavelmente nem irão ver nenhum glaciar devido ao facto de estarem tão afastados da ferrovia e também devido ao aquecimento global.
E não se preocupem com o que vão comer durante a viagem, quando fazem a reserva do bilhete têm a opção de encomendar logo o almoço e um lanche. Ou então fazerem o pedido pelo menu, que poderá ficar mais caro. De qualquer das formas, existem serviço de almoço ao lugar. E também existe a opção do bar do comboio, que muita gente acaba por optar se apenas quiser comer um pequeno lanche.
A rota dá para percorrer em ambos os sentidos, no entanto o sentido Zermatt a St. Moritz é o mais popular, por proporcionar uma melhor vista para o viaduto Landwasser, o mais conhecido desta rota. No entanto, eu fiz a rota ao contrário, e também consegui ver bem este viaduto.
Alguns trechos da rota estão inscritos na lista da UNESCO como Património da Humanidade, como o viaduto Landwasser (que referi anteriormente), e o trecho Albula.
A rota principal é entre Zermatt e St. Moritz, no entanto existe também a opção de ir a Davos como alternativa. Mas este trecho não é tão popular na rota do Glacier Express, mas sim parte do Bernina Express (que passa em parte da rota do Glacier Express). Para quem tem tempo e interesse, pode até fazer as duas rotas com uma estadia intermédia em Davos, Coira ou St. Moritz.
Conhecer um pouco de St. Moritz
O meu ponto de partida foi St. Moritz, e a meu ver vale a pena passar um dia ou dois na cidade para a conhecer um pouco antes de embarcar numa viagem de comboio de um dia inteiro.
St. Moritz é um dos destinos de férias mais populares do mundo, começou a ficar famosa pelas suas termas minerais, que já existem há pelo menos 3000 anos, e é também o berço do turismo alpino de inverno. Desde 1864!
Seja no verão ou no inverno, visitar St. Moritz é sempre uma boa ideia. Enquanto no verão podem apreciar o lindíssimo lago St. Moritz, no inverno podem atravessá-lo a pé! E até ver jogos de polo a cavalo no gelo! Eu visitei St. Moritz no inverno, e andar sobre o gelo foi uma experiência brutal! Ver pessoas a patinarem no lago, e até ver carros a conduzirem por algumas partes!
Fora as diferenças paisagísticas entre inverno e verão, em qualquer altura do ano podem visitar alguns dos vários museus e edifícios históricos da cidade. O símbolo de St. Moritz é a “Torre Torta”, uma torre de 33 metros que existe pelo menos desde 1139!
A rota do Glacier Express, trecho por trecho
A melhor forma de descrever a rota é por trechos, pois todos têm pontos de interesse que valem a pena ver (e alguns mesmo a não perder), e é uma forma de preparem a vossa viagem e perceberem em que zona do comboio devem reservar os bilhetes, de acordo com os vossos interesses.
De qualquer das formas, irão aprender imenso durante a rota. A visita é guiada com auriculares, e antes de cada ponto de interesse um aviso sonoro relembra que mais informação irá ser partilhada. A experiência é bastante enriquecedora, não só pelas vistas, mas também pelo que se aprende tanto sobre a rota como sobre a Suíça.
De St. Moritz a Coira
O primeiro trecho da rota do Glacier Express começa em St. Moritz, obviamente, e vai até Coira (Chur em alemão e inglês). Esta parte do trajecto faz também parte da rota do Bernina Express, que começa em Itália.
Este trecho fica numa zona conhecida pelas suas muitas ruínas e castelos, segundo a informação dentro do Glacier Express, é a zona no mundo com mais castelos e ruínas. Dá para ver algumas delas do comboio, e a informação audio ajuda a identificar alguns deles.
É também nesta parte da rota em que o comboio passa no famoso viaduto Landwasser, uma das secções mais fotografadas da rota. Visto que irão dentro do comboio, é preciso saber de que lado se devem sentar, senão irão passar pelo viaduto quase sem darem por isso. Para quem vem de St. Moritz, o melhor lugar é sentado de costas para o sentido da viagem, do lado esquerdo do comboio. Não se preocupem em irem sentados de costas, em Coira o comboio muda de sentido, e irão viajar a maior parte do tempo de frente.
O viaduto Landwasser faz parte do trecho da Linha Albula, um dos trechos mais importantes da rota. Para subir cerca de 400 metros, recorrendo a algumas espirais, túneis e pontes, a parte principal da linha Albula tem cerca de 12 km. Quando na verdade, a distância entre estes dois pontos é de cerca de 5 km. O motivo de tal extensão foi para respeitar o declive seguro para o comboio poder subir esses 400 metros.
Enquanto estamos dentro do comboio não conseguimos perceber bem que estamos constantemente a passar nas mesmas zonas. Algumas paisagens serão reconhecidas, mas com tantos túneis e pontes, dá a sensação de estarmos a seguir em linha recta.
O primeiro trecho termina em Coira, onde após uma paragem de cerca de 15 minutos, o comboio irá inverter o sentido. Portanto, se partiram de St. Moritz sentados no sentido da viagem, irão passar os outros três trechos da viagem sentados de costas. Mas como o comboio é panorâmico, nem faz assim tanta diferença.
De Coira a Andermatt
Assim que o comboio inverte o sentido da viagem, entramos no segundo trecho da rota. Onde passamos do ponto mais baixo para o ponto mais alto da rota, e um dos pontos de interesse mais apreciados.
De Coira a Disentis passamos pelo Vale do Reno, também conhecido como o Grand Canyon da Suíça. A vista é fenomenal, e recomendo vivamente a irem sentados do lado direito do comboio. A pouco e pouco o comboio vai subindo, até chegarmos a Disentis.
Disentis é um dos pontos de interesse deste trecho da rota, principalmente por causa de um mosteiro milenar que se encontra na vila. Disentis é uma das vilas onde se fala o idioma Romanche, uma das línguas oficiais da Suíça.
A subida continua, até chegarmos ao ponto mais alto da rota, Oberalp Pass. Aqui o comboio pára por uns 10-15 minutos para engatar no engenho que irá ajudar na descida para o próximo ponto. No sentido contrário é graças a este engenho de roldanas que o comboio é puxado para subir uma altitude de cerca de 600 metros.
Oberalp Pass é um dos pontos de interesse que mais desperta a curiosidade entre os passageiros, visto que com bom tempo podemos apreciar a paisagem e sair do comboio para tirar várias fotografias.
Um detalhe sobre o Glacier Express, podem enviar postais directamente do comboio! Podem comprar postais e selos, e deixá-los na caixa postal do comboio, que mais tarde irá chegar ao destino final. Ou então fazerem como eu, escreverem o postal, e esquecerem-se de colocar a morada… Sorte que fiz este disparate no comboio, e deu para pedir para abrirem a caixa para eu escrever a morada nesse postal. Senão não iria chegar a lado nenhum…
De Andermatt a Brig
Este trecho da rota foi um dos mais complicados de implementar, devido à ascensão e à geografia da zona. De 1925 a 1982 este trecho da rota estava fechada durante o inverno, mas em 1982 abriram o túnel para Realp, que permite o Glacier Express passar durante o ano todo.
Em 2010 o trecho antigo foi reaberto e agora é usado por um comboio turístico a vapor durante os meses de verão, mas o Glacier Express continua a usar o túnel.
Quase a chegar a Brig e voltarmos a passar num vale em forma de V, desta vez do rio Ródano, no Vale do Alto Ródano. As vistas são muito bonitas, mas é indiferente de que lado do comboio se senta.
Tanto Andermatt como Brig (oficialmente Brig-Glis) são duas vilas histórias que merecem a pena uma pequena visita. Se fizerem o Glacier Express por trechos, é possível comprar bilhetes para trechos em especifico, uma paragem de um dia em cada vila torna a viagem ainda mais interessante e cultural.
De Brig a Zermatt
Último trecho da rota do Glacier Express, ou primeiro dependendo de onde se começa.
Neste trecho o comboio irá subir cerca de 1000 metros, numa das partes mais inclinadas também será puxado por um sistema de roldanas. Será bem fácil perceber quando isso acontece, conseguimos ouvir o engatar do comboio no sistema e sentimos que o comboio está a ser puxado em vez de ser a sua própria locomoção.
Nesta parte passamos por zonas estreitas com paredes que chegam a atingir os 4000 metros, bastante impressionante! Os picos mais altos dos Alpes Suíços ficam também nesta zona.
Assim que terminamos a subida, chegamos ao Vale Matter, onde a vista é simplesmente incrível. Mas também significa que a nossa viagem está a chegar ao fim, até que chegamos ao destino final da nossa viagem, Zermatt.
Conhecer um pouco de Zermatt
É impossível não se perderem de amores assim que chegam a Zermatt. E se o céu estiver limpo, é de dar de caras logo com o icónico Matterhorn!
O monte Matterhorn também é conhecido como Monte Cervino, parte do monte fica em Itália e o outro lado na Suíça. Daí os dois nomes, depende muito de que lado da fronteira se está, mas é claramente mais conhecido como Matterhorn. Mesmo quem nunca ouviu falar neste monte, irá reconhecê-lo. Se não sabem bem de onde, aparece nas caixas de Toblerone, aliás, os triângulos do chocolate são uma “representação” do monte Matterhorn!
Sendo uma estância de esqui, obviamente que esqui é uma das actividades principais em Zermatt. Irão ver imensa gente com material de esqui, lojas de esqui, e claro, os teleféricos! E esta é uma das deixas para coisas a visitar, subir o teleférico, e quiçá até atravessar a fronteira para o lado italiano?
Uma das coisas que mais gostei de fazer foi perder-me na vila, é bem bonita e castiça. Não faltam perspectivas para fotografar, algumas com o Matterhorn no fundo, outras só mesmo pelas características da vila. Se tiverem tempo, podem também visitar o Museu Matterhorn, mas atenção aos horários, que pode fechar cedo no inverno…
Como não estava preparado com material de caminhada e botas de inverno, perdi a oportunidade de me aventurar pelos muitos trilhos que existem à volta de Zermatt. Aliás, até tentei um, mas o caminho estava completamente gelado, e ainda caí umas duas vezes, até que desisti. A certa altura vi que estavam a colocar casca de pinheiro no trilho para o tornar menos escorregadio, mas sinceramente acho que isso o tornou ainda mais perigoso. Casca de pinheiro em cima de gelo, é uma combinação excelente para deslizar… Portanto, se quiserem fazer caminhadas, levem botas com correntes ou com ganchos para a neve. Recomendo vivamente!
E continuando com a sugestão das caminhadas, a mais conhecida, que não tive oportunidade de fazer (pelos motivos apresentados anteriormente). A rota dos cinco lagos! Em 3 deles dá para ver a reflexão do Matterhorn, que é excelente para fotografia. E claro, altamente fotografado. Será pouco original, mas as vistas são fantásticas. O factor meteorologia aqui é bem importante, com o Matterhorn coberto de nuvens não terá assim tanta piada, mas segundo as sugestões que li, a caminhada não deixa de ser impressionante.
Como comprar o bilhete para o Glacier Express?
Existem várias alternativas para comprar o bilhete para o Glacier Express. A mais comum é simplesmente ir ao site e comprar para a rota toda, de St. Moritz a Zermatt ou vice versa. Mas existem outras alternativas de que vou falar abaixo.
Poupar dinheiro no bilhete do Glacier Express
Diria que a grande maioria das pessoas que querem fazer o Glacier Express, irão acabar por percorrer outras partes da Suíça de comboio. A Suíça é o pais do mundo com melhor rede ferroviária, e também o país em que mais gente usa os comboios. O que torna os comboios uma alternativa bem viável para quem quer explorar o país.
Se o vosso objectivo for viajar mais dentro do país de comboio, então equacionem comprar o bilhete de Inter Rail. Têm várias alternativas, de vários países, de vários dias, de apenas um país (talvez o mais indicado se forem apenas para a Suíça e que foi a alternativa que escolhi). O bilhete de inter-rail dá direito a usar o Glacier Express, no entanto ainda terão de fazer a reserva de lugar, e isso irá custar entre 20 e 40 euros (o preço poderá mudar). Tendo em conta o preço dos comboios na Suíça, o passe de Inter Rail irá compensar bastante. Irão poder usar todos os outros comboios gratuitamente e a menos que seja necessário reserva, é só entrar e usar o passe (seguindo as regras do passe).
Algo que muita gente não sabe, é que o passe de inter rail não é só para gente jovem, dá para todas as idades. O preço também difere, claro, mas ainda assim acaba por compensar.
Comprar o bilhete por trechos
Se tiverem tempo, podem comprar vários bilhetes para os diversos trechos. Desta forma podem até planear melhor a viagem, em que lado do comboio se vão sentar nos vários trechos, etc. E poderão também conhecer um pouco as vilas que referi anteriormente. Podem igualmente comprar o bilhete directamente pelo site para os diversos trechos, e podem também usar o desconto do inter rail pelo site.
Usar uma agência de viagens
E se não quiserem ter este trabalho todo, podem sempre recorrer a uma das muitas agências de vigem que tratam de preparar a viagem à vossa medida. Aqui o preço poderá variar imenso, poderão ter de pagar uma taxa à agência, mas a agência também poderá ter um desconto para o Glacier Express e o preço final acabar mais em conta. Se forem em época alta, uma agência de viagens é de facto algo a ter em conta, pois tanto Zermatt como St. Moritz poderão estar bem cheios de turistas, e encontrar alojamento poderá ser uma grande dor de cabeça. Eu apenas fiquei uma noite em Zermatt porque não consegui encontrar alojamento a preço acessível para mais do que uma noite.
Esta viagem é uma excelente oportunidade para conhecer um pouco do interior da Suíça no comboio expresso mais lento do mundo. Uma viagem que recomendo vivamente, e que eu adorei. A única coisa que lamento foi não ter ficado mais dias tanto em St. Moritz como em Zermatt, mas de resto, foi uma experiência que me irá ficar na memória.
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