A Gold Coast é uma das cidades mais populosas da Austrália, e a segunda do Estado de Queensland. Foi também a minha primeira paragem nesse mesmo estado. A Gold Coast é conhecida pela praia gigante que tem, pelas festas e pelos canais artificiais que colocam a cidade numa faixa junto ao mar. A zona de maior intensidade populacional fica nessa faixa, enquanto que o resto, bem conectado pelos canais, é uma zona com aspecto mais suburbano.
Em quase todos os guias, o nome que aparece com mais frequência é Surfers Paradise, que é um dos bairros da cidade e o bairro com mais dinamismo. É ali que tudo se passa, festas, bares, cafés e restaurantes. Segundo os locais, a cidade não é assim tanto um paraíso entre os surfistas, muito devido à quantidade de turistas que visitam a cidade todos os anos, fica a faltar espaço para surfar com alguma tranquilidade. Mas há muito mais do que praias e surf, a Gold Coast é bem conhecida pelos seus vários parques temáticos, que infelizmente acabei por não visitar nenhum…, ainda sofro por essa estúpida decisão…
Quanto à vida nocturna, pelo simples facto de que a cidade é bem conhecida entre os backpackers. Acho que é bem fácil de imaginar o quão animada a noite naquela cidade é. E para quem fica em hosteis a animação ainda é maior. Numa das noites em que lá estive organizaram uma ronda dos bares em conjunto com vários outros hosteis, uma forma de juntarem vários jovens nos mesmos locais. Por outras palavras, uma noite para a desgraça…
Não sou muito uma pessoa de sair à noite, gosto de conviver com amigos e beber uns copos, mas não sou adepto de ficar podre de bêbado ao ponto de me esquecer da noite toda. Em viagem, ainda sou pior que isto, quero é aproveitar onde estou, e sou apologista de que para ficar bêbado posso fazê-lo em casa. Antes de chegar a Surfers Paradise já ia um pouco arrependido. A paragem inicialmente era meramente estratégica para relaxar e apanhar alguns banhos de sol, mas quando fiquei a saber do motivo principal que leva tantos jovens a visitarem a cidade, fiquei bem de pé atrás…
A vida no hostel
Até fiquei reticente quanto ao sitio onde ficar, tinha um passe de noites em hosteis parte de uma rede, da Nomads/BaseX, e queria usar essas noites todas (pois já estavam pagas). Sendo essa rede bem popular, estava com receio de ir parar a um hostel de festa, e não era bem isso que estava à procura… No entanto acabei por adorar o sitio onde fiquei, o Buds in Surfers backpackers. Para quem chega, não tem o melhor dos aspectos, aliás, é mesmo um budget hostel, mas o ambiente foi dos melhores que encontrei na Austrália!
Os quartos bem velhos, sem sequer um corredor interior. Abre-se a porta, e estamos na rua…, para ir ao banho, é pela rua. A cozinha minúscula, e para comer tem de ser na rua, mas se estiver de chuva também temos um telheiro. A zona do bar fica na recepção, mas tem de fechar às 10 da noite porque não têm licença como bar, e com a recepção fechada, temos de entrar por uma porta lateral. Se estiver de chuva, mais vale ir ao WC do primeiro andar, que o mais certo é o de baixo estar tudo chafurdado de água pelo chão. Sim, parece um filme de terror, mas adorei o ambiente e o grupo que encontrei naquele hostel. Por vezes, temos as melhores experiências nos locais mais improváveis.
Socializar com os outros hóspedes
Uma das grandes vantagens de ficar num hostel tão pequeno é quase a obrigatoriedade de conhecer os restantes visitantes, senti alguma diferença etária, mas ali foi bem mais fácil de me integrar. Jogámos imenso às cartas, e fui apresentado a um jogo que nem nunca tinha ouvido falar, o One Night Ultimate Werewolf, e que acabei por comprar assim que regressei à Irlanda. Acho que foi a partir da Gold Coast que comecei a reparar no padrão de nacionalidades que ia encontrando, com quase 100% de certeza de que iria encontrar um Inglês, e uma forte probabilidade de vir a conhecer algum Canadiano.
Além de jogarmos imenso ao One Night Werewolf, também participámos noutras actividades do hostel, fiquei lá 3 noites e ainda deu para jantarmos pizzas e sair na primeira noite. E um churrasco na segunda noite que foi a noite dos hosteis, e supostamente a melhor noite para sair. Mas a ressaca da noite anterior fez-me pensar duas vezes e acabei por ficar pelo hostel… Uma noite para relaxar, na cidade das festas.
Aproveitar a piscina de água salgada do hostel
Outra das características do hostel é ter uma piscina de água salgada, apercebi-me que não é assim tão estranho na Austrália, afinal com tanto calor…, é uma excelente forma de atrair mais viajantes. Assim que acordava, a primeira coisa que fazia era mergulhar naquela piscina para despertar, só depois iria ao banho. Bela vida…
Como estava de visita, evitei passar demasiado tempo no hostel, saia de manhã e voltava ao final da tarde. Talvez voltasse à hora de almoço para poupar uns trocos, mas acabaria por sair quase logo de seguida. Os finais de tarde já eram passados com o pessoal que estava lá a ficar, e como seria de esperar, deu para conhecer pessoas bem interessantes.
Uma das pessoas que conheci foi um senhor Neozelandês que vive na Austrália há imensos anos de forma intermitente, ele nem sequer tem visto de residência, há uns 40 anos que tem de sair da Austrália uma ou duas vezes por ano para voltar a poder entrar como turista. Os filhos já nasceram na Austrália, então têm uma casa, mas ele insiste em continuar como um turista permanente. A história daquele senhor fascinou-me, estava de visita apenas porque estava entediado e queria sair por uns dias para a praia, e foi sozinho e ficou num hostel essencialmente para jovens.
Como funciona o sistema de numeração de casas e propriedades nas zonas rurais da Austrália?
Uma das curiosidades que aquele senhor nos contou foi a forma como as casas são numeradas nas zonas rurais. Como as distâncias entre propriedades chegam a atingir vários quilómetros, algumas até dezenas de quilómetros, a numeração das casas é baseada nestas distâncias. O número da casa não é sequencial, mas sim “dezenas de metros” desde o inicio da estrada. Por exemplo, uma casa que esteja no quilómetro 5,340 terá como número, 530.
Uma das outras visitantes mais seniores do hostel foi uma senhora que apenas passou lá uma noite, mas que começou com uma grande introdução. Aparentemente, ela fala (e insulta) durante o sono…, e avisou-nos para não termos receio caso ela começasse a gritar palavrões durante a noite…, ok…, seria motivo para me preocupar? Claro que não, até ficámos todos desejosos de que algo do género acontecesse, seria certamente uma história para rir e partilhar, pena que não foi o caso…
E fui conhecer um pouco da Gold Coast
A zona de Sufers Paradise nem é muito grande, e como o meu hostel até fica bem perto a praia, até nem tive de me mexer muito… A zona do centro está recheada de lojas e ruas pedonais, com a linha de elétrico a atravessar o bairro todo sempre paralela à praia. Nem sei quantas vezes passei por aquela rua, uma zona bem agradável e sempre a sentir o cheiro das férias por todos os cantos, ainda que o tempo estivesse um pouco para o acinzentado…
Claro que também fui à praia, apanhar alguns banhos de sol nos intervalos dos chuviscos…, e apesar de ainda estar com receio parvo de me deparar com tubarões, também fui nadar. Mas verdade seja dita, o maior problema no mar são mesmo as medusas venenosas que podem causar danos bem graves num ser humano, e até morte.
Ir a Surfers Paradise, claro que teria de ir surfar e riscar mais uma linha da minha lista de coisas a fazer, paguei por uma aula de 2 horas com garantia de surfar de pé. Como já tinha surfado antes na Irlanda, ainda pensei que fosse aprender mais alguma coisa, mas as instruções eram mesmo para quem nada sabia.
Foi divertido na mesma, mais que não fosse pelo coreano que foi comigo e que mal falava inglês, mas quase nada mesmo, mas o gajo era bom a surfar! Éramos apenas nós os dois mais o instrutor, foi quase como uma aula privada numa praia mais afastada da zona urbana. Levei a GoPro comigo, e fiz alguns vídeos, um dia destes edito e faço uma montagem para partilhar aqui no blog.
Depois da aula de surf lá voltei ao hostel, última tarde na cidade e ainda com tanto para ver e fazer…, sem me decidir muito bem sobre o que fazer a seguir, optei por ir até a um canal nas traseiras do hostel para ver o pôr-do-sol, uns bons momentos apenas comigo mesmo a aproveitar aquele momento mágico. Depois de uns dias bem intensos, sabe tão bem estar ali, sem fazer nada, somente a apreciar as cores do céu reflectidas nas águas dos canais da cidade.
Os canais também têm pequenas praias fluviais, e uma delas fica mesmo no ponto onde fui ver o pôr-do-sol, enquanto andava pela areia reparei nuns caranguejos que ali estavam, caranguejos eremitas, foi a primeira vez que vi uns na Natureza, perdi imenso tempo só a olhar para os bicharocos a serem arrastados pela ondulação suave do canal.
E os dias em Surfers Paradise estavam terminados, de volta ao hostel para arrumar as coisas e preparar-me para mais uma viagem…
Onde fica Surfers Paradise e como lá chegar?
Surfers Paradise é um bairro na cidade Gold Coast, que fica em Queensland, mesmo na fronteira com Nova Gales do Sul, a cerca de uma hora de autocarro a sul de Brisbane. Além dos autocarros, também têm um aeroporto e são também servidos por linha férrea.
Para quem chega vindo do sul, como eu, convém ter em atenção que dependendo da altura do ano o fuso horário é uma hora a menos. O estado de Queensland não tem diferença entre horário de verão e inverno, ao contrário do estado de Nova Gales do Sul, portanto esta mudança de hora depende mesmo da altura do ano em que se cruza a fronteira. No meu caso, como fui lá no verão, apanhei com essa mudança horária. Apenas convém ter isso em conta quando se fazem marcações, pois uma hora pode fazer uma grande diferença…
A minha viagem de Byron Bay à Gold Coast foi bem molhada, chuvas tropicais durante quase o tempo todo…, acho que tive imensa sorte, pois durante a minha estadia na cidade apenas apanhei alguns chuviscos. Apesar da fama da Austrália ser um país quente, convém não esquecer que metade do país está entre os trópicos e eles têm algumas florestas tropicais, ou seja, muita chuva.
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