O hike no dia anterior foi puxado, depois de tanto andar e de um longo banho quente dormi que nem um bebé por várias horas até às 5:50 da manhã. Arrumei a mala, tomei o pequeno-almoço e lá fui eu para a estação de comboios em direcção a Kurashiki. Para ser sincero, quase que tirei Kurashiki da minha lista. As críticas levaram-me a crer que a cidade é um poço de extorsão de turistas, mas ainda assim decidi tentar, porque não? Eu gosto de locais pequenos, provavelmente até iria gostar de Kurashiki. Pelo menos o hotel onde iria ficar tem críticas muito boas, o Hotel Kurashiki Ivy Square.
Ao chegar a minha primeira sensação foi de que estava numa cidade pequena, e gostei bastante disso! Cidades grandes não são para mim, então o primeiro impacto em Kurashiki foi bastante bom. Ainda assim é uma cidade, com uma grande estação de comboios. E uma avenida bem larga, com vários edifícios altos na zona da estação de comboios, mas não tão mau como imaginava.
Caminhar por Kurashiki
Assim que entrei no centro da cidade, a verdadeira Kurashiki que eu estava a visitar, fiquei apaixonado! Bastante castiça com ruas bem estreitas, lojas pequenas e sim, uma extorsão. Com um canal a atravessar a cidade velha. De acordo com o que li, eles usavam o canal para facilitar a transportação de arroz. Kurashiki também significa vila armazém, e quase todas as casas velhas que vemos em tempos serviram de armazéns para arroz.
Estava na hora de fazer algo mesmo turístico. Fui ao centro histórico da cidade para me perder um pouco e conhecer melhor o centro. E pelos vistos, foi mesmo na época dos casamentos! Kurashiki de facto parece mesmo ser o local ideal para tirar fotografias de casamentos, com os seus canais e pontes bem castiças. Excelente para tirarem várias fotografias de várias perspectivas.
Tendo em conta que se calhar sou um pouco viciado em cafeína, fiz uma pausa para café, desta vez no Kurashiki Coffeae-Kan, eles torram o seu próprio café, e aparentemente também têm o seu próprio estilo de cappuccino. O que foi bastante bom, mas completamente diferente do tradicional cappuccino, este com uma espuma bastante fria e espessa (acho que até era mesmo natas ou chantilly), e o copo bastante pequeno. Mas bastante bom!
Enquanto desfrutava do meu café, fui lendo o que o livro de viagens Frommers recomenda a visitar em Kurashiki, e uma das recomendações principais é o Museu de arte Ohara. Um museu único no Japão, com muita história e arte. Confirmo, é de facto um excelente museu, e dá para passar imenso tempo lá dentro, excelente alternativa para quem procura fazer algo diferente durante as férias, caso o tempo vos force a ficarem debaixo de tecto. Gostei bastante do museu, mas atenção que se o quiserem desfrutar devidamente irão passar várias horas lá dentro. Não vou falar de detalhes, mas tem peças de arte únicas, e algumas de alguns artistas bem conhecidos, o que me surpreendeu bastante para um museu numa cidade pequena.
Como disse antes, o museu tem imenso para ver, ao ponto de que tive de fazer uma pausa para almoçar. Desta vez estava mesmo à procura de comer sushi, mas acabei por comer outra coisa qualquer que nem faço ideia do que era. Comi no restaurante Kamoi, boa comida e equipa bem simpática! Gosto da forma como os empregados dos restaurantes nos recebem, e a forma como se despedem de nós. Talvez um pouco robótico, mas é muito acolhedor vê-los tão simpáticos até depois de pagarmos…
Depois do almoço, lá fui para a segunda etapa da visita ao museu, e desta vez com muitas crianças de uma escola… Torna-se complicado de aproveitar seja o que for com grupos de crianças barulhentas e irritantes à nossa volta…, então decidi escapar. Fui fazer uma caminhada até ao topo da colina. De acordo com o mapa esse também era um ponto de interesse, então foi para lá que eu fui. A vista é bonita, sobre Kurashiki, mas o tempo lá em cima é só mais outro templo japonês.
Depois de uns dias no Japão, todos os templos tornam-se iguais, uns maiores, outros mais pequenos, mas acaba por ser muito do mesmo em cidades diferentes. Para mim, o que vale a pena é visitar por dentro, mas por norma é pago. Até ao momento, essa é a parte mais interessante nos templos que visitei.
O que fazer em Kurashiki?
O centro histórico de Kurashiki é bem pequeno, numa longa tarde dá para ver as atracções principais. Depois de percorrer quase a parte antiga toda, achei que estava na hora de fazer check-in e ir relaxar um pouco no hotel. E foi aí que decidi perguntar sobre a minha tatuagem…
Uma coisa que reparei no Japão, talvez por vir de um país com uma cultura de consumismo de café bastante grande, é que os cafés fecham bem cedo. Por volta das 5:30-6:00 da tarde expulsam os clientes do estabelecimento. Tinha-me esquecido disto…, e uns minutos antes das 5 fui ao café El Greco, outro café bem castiço que vale a pena a visita. O problema foi que quando entrei já estavam poucas pessoas, então fiz o meu pedido e comecei a ler um pouco o meu livro, minutos depois apercebi-me que eu era o único cliente dentro do café. E tenho a certeza que apenas li por uns minutos, pois sei que cheguei apenas uns minutos antes das 5, e eram exactamente 5 quando saí.
E depois das 5, que mais posso fazer? Mais uns quantos museus, Kurashiki tem vários. Além do Ohara que já referi antes, tem mais uns quantos. Entrei em mais uns dois ou três museus, e num deles juro que nem faço ideia do que estava a ver. Pareceu-me que a cultura japonesa é muito orientada a si mesma, até mesmo nas estratégias de turismo. Não que isso seja mau, mas podiam ser um pouco mais abertos a turistas.
Outra coisa que notei em Kurashiki, e que talvez seja comum em cidades não muito grandes, é que as pessoas comem muito cedo. Portanto não faz muito sentido ter restaurantes abertos até tarde. Em Tóquio não notei isto, mas tanto em Hiroshima como em Kurashiki foi um pouco complicado encontrar um sitio para jantar depois das 7:30pm. Após andar às voltas por um bom bocado, decidi entrar no primeiro que encontrasse aberto.
Se há coisa que no Japão é muito bom, é a simpatia no atendimento, o que voltou a acontecer neste restaurante. A comunicação é sempre um factor complicado, mas depois de apontar para o que queria lá consegui pedir o que queria, e foi bastante bom!
Foi um dia long, muita caminhada, então estava na hora de experimentar algo japonês de que já tinha ouvido tanto falar, o onsen! E….., nope! Não gostei nem um pouco, foi uma experiência interessante, mas senti-me totalmente fora de contexto. Não faltaram olhares na minha direcção, não sei se devido ao facto de ter uma ligadura a tapar a tatuagem, ou pelo simples facto de ser a única pessoa sem traços asiáticos no onsen. Mas pelo que li, tanto um como o outro são dois motivos prováveis para ser alvo de tantos olhares. E aprendi outra coisa, depois do onsen preciso de outro duche, mas com sabão! Detestei o cheiro que ficou em mim…
Estadia no Hotel Kurashiki Ivy Square
O edifício do hotel é bem melhor que o resto dos outros edifícios na zona. Segui as sugestões do Frommers, e é de facto bastante agradável. Kurashiki Ivy Square, construído para fiação de algodão, é um edifício de tijolos vermelhos com um pátio bem bonito onde podemos beber uma bebida na rua, se o tempo assim o permitir. O nome Ivy Square deve-se ao facto de o edifício inteiro estar coberto por era, tornando-o ainda mais bonito, numa mistura de vermelho e verde.
A recomendação foi de facto bastante boa, mais uma vez Frommers contribuiu para uma boa experiência. Apenas uma coisa que convém realçar, não existe nada nas regras do hotel em que proíba usar o onsen se tivermos uma tatuagem, e no meu quarto nem sequer tinha chuveiro nem banheira. Como tal, tive de usar os banhos públicos (onsens).
Por pura ingenuidade perguntei na recepção se a minha tatuagem seria uma condicionante para usar o onsen, eles falam bastante mal inglês. A reacção deles foi de pura discriminação, puxaram-me para o lado para me mostrarem outro quarto com chuveiro. Como estava a ir para a cidade, disse que não queria tomar um duche no momento- Quando voltei usei o onsen, apenas cobri a tatuagem com ligadura.
De Kurashiki para Quioto
Okay, lá fui eu dar uma segunda oportunidade ao onsen em Kurashiki. Acordei cedo, e visto que tomar banho é algo que convém ser feito, decidi tentar novamente. A experiência foi um pouco diferente desta vez, mais relaxante (talvez porque ainda estava a dormir) e as minhas expectativas para com o onsen já tinha desaparecido. Talvez esta seja a melhor forma de apreciar, não pensar demasiado sobre as nossas viagens, o que é bom para uns pode não ser para nós.
Preparação para sair de Kurashiki
Uma peculiaridade sobre o Japão, que já me tinha alertado, é o lixo. Existem muitos poucos caixotes do lixo, e surpreendentemente para um europeu, também existe muito pouco lixo nas ruas! Basicamente, se consegues criar lixo, também o podes levar contigo até ao próximo caixote. Nós temos muito a aprender com esta gente!
Outro facto interessante que notei, é quando compramos comida numa loja de conveniência, eles dão sempre um pano húmido para limparmos! Isto parece bem normal, no entanto, em muitos locais nos podemos considerar com sorte se nos derem um pedaço de papel que nem sequer vai servir para nos limpar a cara!
E mais uma vez, de volta à estação de comboios… Ter um JR pass significa que vamos usar imenso os comboios… Outra coisa estranha que notei foi um som repetitivo de pássaros. Não aquele som agradável que ouvimos na natureza, mas sim um chilrear repetitivo. Suponho que isto seja para ajudar as pessoas a relaxar… Cidades grandes, falta de Natureza, então eles criam a sua própria Natureza artificial. Isto sim pareceu-me ser bem interessante, no entanto, para mim, nada substitui a Natureza a sério.
Dentro do comboio
A caminho de Quioto desde Kurashiki, com a minha reserva que a fiz de antemão por causa do festival Matsuri que tinha por objectivo ver.
Tentei fazer as reservas para os locais seguintes, Koyasan e “a próxima”. Não apenas reservar mas também tentar decidir o que fazer a seguir. E ao mesmo tempo, a ter um déjà vu GIGANTE com todos aqueles túneis e reservas duplicadas que acabei por fazer, e que depois tive de cancelar. Felizmente todas elas não cobravam um cêntimo por cancelamentos de antemão. Ainda assim, um bocado irritante!
Koyasan é um daqueles locais que tinha grandes expectativas, e estar num onsen com monges é uma experiência a ter. Não perguntem porquê, isso foi o que li! Mas há aqui um detalhe…, eu tenho uma tatuagem, e enquanto lia as críticas senti que existe alguma discriminação para com pessoas com tatuagens. Existe um bom motivo para tal no Japão, ainda assim, não deixa de ser discriminação.
A grande maioria das pessoas no Japão não têm tatuagens, e se têm, são pequenas. As excepções são para os yakuza, e é aqui que a discriminação começa. Para evitarem terem yakuza nos seus onsens, eles decidiram proibir pessoas com tatuagens. De realçar que isto foi o que li, não tenho a certeza de que isto seja o motivo real por detrás desta discriminação. Mas não existe dúvida em relação ao estigma que existe.
Chegada à Estação de Quioto
E em Quioto, estação giganteeeeee com vários pisos, lojas, plataformas, restaurantes, uma confusão dos diabos! Em suma, uma pequena cidade ali dentro, acho que até vi um hotel dentro da estação de comboios! Apenas tinha de descobrir como chegar à estação de comboios perto do meu hostel. Por sorte tinha a aplicação Hyperdia no meu iPhone, que diz exactamente que linha apanhar e em que direcção. Ainda assim, a estação de Quioto é bem grande e um pouco assustadora para um menino do campo como eu!
Encontrar o hostel foi bem fácil, as instruções que o anfitrião me deu pelo Airbnb eram bem precisas, e com o google maps ajudou imenso a encontrá-lo. A entrada não era assim tão óbvia, mas as suas instruções estavam muito boas. O local é fantástico, uma casa antiga com mais de 100 anos, renovada por dentro mas mantendo um estilo clássico Japonês. Não ideal para pessoas com mobilidade reduzida devido às escadas e aos colchões japoneses, mas um local bem bonito que recomendo vivamente!
A única coisa menos boa é a distância até ao centro da cidade, pensava que era mais próximo do que é. No entanto, os transportes públicos em Quioto são bastante bons e existe uma paragem de autocarro a segundos de distância do hotel. Devo admitir que de início cheguei a equacionar alugar uma bicicleta por dois dias…
Onde fica Kurashiki?
Kurashiki é uma cidade costeira em Okayana, a meio caminho entre Hiroshima e Quioto. A paragem intermédia perfeita para quem está a viajar entre estas duas cidades.
Leave a Reply