Tanta coisa por contar que mal sei por onde começar, aliás, sei porque passei a viagem toda a escrever notas no meu bloco para não me esquecer de contar detalhe nenhum deste magnifico fim-de-semana! Há muito que queria conhecer os famosos Mosteiros de Metéora, e finalmente chegou o dia de concretizar este sonho!
A caminho dos Mosteiros de Metéora
Parece que nunca aprendo, quando fui a Salonica apanhei o comboio da meia-noite e cheguei lá todo partido desta vez fiz a mesma coisa…, mesmo comboio mas com agravante, tive de trocar de comboio pelas 5:30 da matina…, por azar um velho sem reserva de lugar sentou-se ao meu lado logo no inicio da viagem (vendem bilhetes sem reserva de lugar, os comboios vão cheios de gente em pé) que deve ter colocado o repelente nele, mas repelente de pessoas tal não era o fedor… Roguei-lhe pragas por tudo quanto era lado…, aparentemente resultou pois quando foi ao WC outro gajo roubou-lhe o lugar! Resto da viagem mais tranquila!
O comboio atrasou uma hora e meia, era suposto chegar pelas 4:00 à estação de transbordo (que não faço a mais pequena ideia do nome da estação mas também não me parece relevante), mas pelos vistos isto anda tudo sincronizado…, tive de ficar mais 50 minutos na outra estação à espera de um outro comboio para Trikala e mais coisas para contar…
Já não me bastava o velho em parte da viagem, a sala de espera da estação também fedia a algo que felizmente nem consegui reconhecer…, e para ajudar à festa dois atrasados mentais começaram a fumar na sala de espera – o belo do respeito grego pelo próximo – mas vá lá, houve mais gente a sentir-se incomodada e eles lá tiveram de sair…
Mas aqueles 50 minutos ainda foram mais longos do que isto, sala a feder, gajos a fumarem, esperar pelo comboio, estar cheio de sono, conforto? Nenhum! E ainda tivemos de gramar com um louco qualquer que estava a assobiar ao telefone, como se estivesse a gravar musica ou algo do género…, mais gente a reclamar e o senhor lá se justificou “estou ao telefone“, claro, porque é absolutamente normal estar a assobiar ao telefone às 5 da matina, aliás, é absolutamente normal estar a assobiar ao telefone sem haver mais qualquer tipo de diálogo…, deve ser algum dialecto que nunca ouvi falar…
Chegada a Trikala, a minha anfitriã foi simplesmente fenomenal! Foi-me buscar Às 6:30 ou 7:00 à estação de comboios, levou-me para casa dela para dormir uma pequena sesta antes de ir a Metéora e deixou-me de tal forma à vontade que quando acordei estava sozinho em casa! Esta confiança depositada nas pessoas é magnífica!
Explorar o vale de Kalabáka e os Mosteiros de Metéora
Voltei à estação de comboios para me dirigir a Kalabáka (cidade junto à zona de Meteora) e comprei os meus bilhetes de ida e volta, incrível como para uma viagem de ida e volta paguei 1,70€ e para tomar o pequeno almoço foram 4€…, viajar de comboio na Grécia é absurdamente barato! Ao chegar a Kalabáka a minha aventura mudou totalmente de rumo, inicio de um dos fins-de-semana mais fantásticos e fenomenais que alguma vez experienciei! Eu que pensava que já tinha visto um dos lugares mais fantásticos da Europa, e afinal ainda me consigo surpreender!
Para quem pensava que ia viajar sozinho novamente, decidi tentar abrir a mente e aumentar a probabilidade de divertimento. Assim que saí da estação de comboios fui ver se via alguma paragem de autocarros para os mosteiros (ainda são uns quantos…), mas fiquei tão maravilhado com a paisagem que comecei logo a tirar umas fotos, ao que me apercebo de um casal de Japoneses a fazerem o mesmo…
Entretanto reparo que o taxista lhes está a sugerir a boleia e a informá-los que ou táxi ou a pé…, alí estávamos todos para o mesmo – Turistas! Como reparei que o Inglês deles não era do melhor, decidi oferecer-me para ajudá-los a falar com o taxista (como se eu percebesse muito do que eles dizem) e propus-lhes juntar-me a eles na viagem pelos Mosteiros, basicamente fui um colas com charme tuga!
Se eu pensava que tinha sido demasiado organizado no meu interrail, aquele casal então abusou…, até tinham mapa dos trajectos a pé entre os Mosteiros…, tinham tudo planeado ao segundo (não tenho paciência para contar as últimas semanas da vida deles, mas foi tudo planeado milimetricamente) e já tinham em mente ir até ao centro da vila para apanharem um taxi…, fui com eles.
Taxi partilhado, viagem até ao primeiro mosteiro (e único onde entrei a pagar), Megalos Meteoros, aqueles monges viviam bem! Paisagens brutais, ambiente bem acolhedor…, e em locais de bastante difícil acesso (na época eram mesmo inacessíveis, apenas por “cesto” e corda).
Andámos a passear pelas montanhas de mosteiro em mosteiro, mas não entrámos em nenhum pois é sempre a mesma treta lá dentro, foi mesmo para gozarmos daquela paisagem e ar puro. O dia foi todo a falar, falámos bastante das viagens deles, das minhas viagens, do que há para ver na Europa (eles estão numa Eurotrip versão flash), do que há para ver no Japão – Elma, se quiseres dicas já sabes a quem pedir – foi uma tarde bastante bem passada com um casal desconhecido! Não faltam fotos a comprovar isso!
O contacto com a Natureza é algo que me fascina imenso, e estar num local onde a diversidade é tão fantástica então deixa-me em estado criança, fartei-me de tirar fotos a duas águias que andavam a rondar-nos mas elas são tão rápidas que mal as conseguia focar…, ainda tentei algumas vezes e acho que só uma foto se aproveita…
Voltei a ver cabras da montanha, mas desta vez era ainda um grande rebanho! Isto mesmo junto a um dos Mosteiros, o último que fomos ver. Neste último Mosteiro acabei por entrar, queria apenas ir ao WC portanto deixaram-me entrar sem pagar…, o interessante é que o WC é na outra ponta do Mosteiro e do lado de fora do mesmo, tive de ir mesmo ao quintal do Mosteiro para ir ao wc… Claro que uma vez lá, aproveitei para tirar fotos que nem um animal! A paisagem sobre Kalabáka é abismal e foi certamente o melhor spot que encontrei para tirar fotos sobre o vale todo!
Agora o que realmente me surpreendeu nos Japoneses…, por diversas vezes disse “amazing” ou “unbelievable” pois a paisagem de facto merece elogios destes…, ao que eles me ensinam como se diz isto em Japonês – Segoí (pelo menos foi assim que me soou), lá juntei mais uma palavra ao meu léxico Português – Japonês…, já conto com 4 palavras!
Para não me esquecer, saquei do PDA e escrevi a palavra no bloco de notas (estilo tinta), portanto parecia mesmo que estava a usar uma caneta para escrever num aparelho daqueles…, reparei que eles começaram a rir e perguntei-lhes o que se passava. Eles não sabiam o que é um PDA! Um casal do país da tecnologia não sabe o que é um PDA mas têm dinheiro para virem passear para a Europa? Fiquei totalmente abismado com aquela informação!
Depois do último Mosteiro de Metéora, decidimos seguir por um trilho que indicava dar a Kalabáka, trilho bem estreito, inclinado mas bem porreiro! Divertimo-nos imenso até chegarmos a Kalabáka e estávamos tão satisfeitos com o dia pelos Mosteiros que nem nos sentíamos cansados…
Ao chegar a Kalabáka os Japoneses foram a um supermercado atulharem-se em Uzo para levarem de souvenir, mas não foram nada meigos…, tendo em conta a quantidade de garrafas…, depois disso fomos para a estação, já bastava de andanças e apesar de não nos sentirmos cansados não devia faltar muito para o corpo se ressentir (nem me consigo mexer aqui no escritório…).
Já na estação, eles perguntaram-me o que poderiam ver na Grécia e o que deveriam comer/provar tipíco cá…, eu como adoro tzatziki, foi logo a primeira recomendação, depois ainda lhes falei das saladas Gregas, das bebidas, de outras comidas e afins…, entretanto uma rapariga no banco ao lado apercebeu-se da conversa e perguntou se se podia juntar a nós (deve ter sido o dia em que tive mais momentos expontâneos de sociabilização dos últimos meses), Austríaca!
Grupo totalmente internacional! Em conversa calhou a compararmos os livros de turismo de ambos…, a Austríaca apenas tinha um livro inteiramente dedicado à Grécia que curiosamente ainda conseguia ser maior do que o livro dos Japoneses dedicado à Europa Toda!!! Deu para rir bastante, ainda tirei duas fotos à secção de Portugal no livro deles, agora já sei como se escreve Portugal em Japonês! Depois disso, viagem de comboio…, eu só uma estação enquanto eles voltaram para Atenas.
Conhecer um pouco de Trikala
Quanto à noite, foi mais tranquila, Trikala tem uma vida nocturna bastante porreira e adorei o bar onde estivemos, algo estilo tapas em que nos iam dando batatas, legumes (pepino, cenoura, azeitonas e afins), mini-tostas-mistas e molho e afins enquanto íamos bebendo as nossas cervejas. Fiz couchsurfing em Trikala, mas a parte engraçada é que estive com amigos do meu colega de casa, como o mundo é pequeno! Diverti-me imenso nessa noite, mas estava tão estafado que não aguentei muito mais do que a 1:30…
No dia seguinte acordei em fase de total anhanço, não dava para muito…, mas a minha anfitriã acabou por insistir para eu sair de casa, para aproveitar a cidade. Para ser sincero, não tinha expectativas nenhumas quanto à cidade, mas acabou por se revelar uma cidade bastante interessante para ver.
Tentei (e consegui) perder-me pelo meio da cidade, andei na parte velha a tirar bastantes fotos (uma delas que vim a saber que é uma perspectiva bastante conhecida de Trikala), fui ao castelo e depois decidi ir almoçar a casa da minha anfitriã, ela convidou-me! Não sou assim tão penetra…
Visitar o vale de Pyli
A tarde revelou-se ainda mais fantástica, ela levou-me a uma zona perto de Trikala, Pyli, disto é que não contava mesmo! Fiz a viagem a contar com Metéora, estava mentalizado para ver paisagens fantásticas mas era só…, não esperava ver o que vi naquela zona! Segundo a história que ela me contou, aquele vale há muitos milhares de anos foi um lago gigante que se “rompeu” naquela zona.
A cadeia montanhosa faz um rasgo de tal forma brutal ali que eu fiquei sem falar uns bons segundos a observar aquela paisagem, imaginem o que é uma planicíe enorme e depois uma montanha elevar-se com uma agressividade parva e a uma altura bastante considerável, sem haver qualquer tipo de relevo progressivo até lá, e no meio dessa cadeia haver um vale em V que vem mesmo até ao nível da planície. Não consigo descrever melhor que isto, e pior ainda é que fiquei tão parvo com aquela paisagem que nem tirei fotos à cadeia montanhosa à distância, apenas quando cheguei lá.
Após isso, rumo a Atenas novamente… Assim que chego à estação de comboios apercebo-me que deixei a minha toalha de banho em casa da minha anfitriã…, já comecei a deixar “rastos” por onde ando a passar… Um pouco de cheiro a Gil…
A parte realmente porreira neste fim-de-semana todo foi a previsão meteorológica, era suposto chover bastante na zona de Trikala Sábado e Domingo…, mas como dá para ver pelas fotos foram dois dias fantástico, o Sábado então estava com o céu totalmente azul! No entanto…, quando cheguei à estação de comboios começou a chover!
Pela primeira vez fiz a viagem de comboio do centro da Grécia durante parte do dia, as outras vezes foi sempre de noite e nunca tive a noção do que andava a perder…, é uma zona realmente fenomenal para se fazer um interrail também, o comboio passa por zonas totalmente selvagens e a linha chega a andar mesmo à beira de penhascos com uma paisagem brutal! O comboio mesmo no topo da serra e a vermos tudo o que está à volta, só mesmo fazendo esta viagem para ver!
No meio de tanto texto, acho que deu para perceber que este fim-de-semana foi realmente inesquecível…, espero que venham mais assim. Definitivamente, Grécia é bem mais do que ilhas!
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